sábado, 21 de janeiro de 2023

TOXICIDADE NA BEIRA BAIXA

 


(Todos os territórios pretendem numa sociedade cada vez mais aberta à disposição de um clique a disseminação e reconhecimento de uma imagem positiva e atrativa. Muitos conseguem-no, sobretudo através de um padrão consistente de valorização comunicacional da diferenciação que os seus recursos e práticas permitem alcançar. Outros, porém, são obrigados a enfrentar os efeitos negativos de algumas imagens que a comunicação tende por vezes a prolongar para lá do tempo aceitável. Recordo-me, por exemplo, do tempo longo que o vale do Ave teve de enfrentar para erradicar a imagem ambiental que o atravessava trazida pelo rio que mudava de cor, de Felgueiras a braços durante também largo tempo com a imagem do trabalho infantil e com as cenas pouco edificantes de agressão a Francisco Assis na sequência do dossier Fátima Felgueiras e, mais recentemente, Odemira terá de dar corda aos sapatos, e bastante corda, para se desenvencilhar da imagem do trabalho migrante mal acolhido e mal tratado. Noutro plano, existem as imagens tóxicas da política e era sobre esta dimensão que gostaria de focar este post. Por razões óbvias e compreensíveis, entre as quais as de pura atualidade.

 

Orientemos a nossa atenção para as Beiras para contrapor duas imagens que têm sido abundantemente disseminadas.

Mais a norte, o Fundão é um claríssimo exemplo, e deve-o integralmente à qualidade e empenho notáveis do seu Autarca, Paulo Fernandes, de como um pequeno concelho do interior consegue inscrever a palavra e a prática da inovação num território que estamos pouco habituados a inscrever como exemplo de ambiente de inovação. É a Paulo Fernandes que se deve a inscrição do tema da inovação em meios rurais e de baixa densidade na estratégia da Região Centro e na sua Estratégia Regional de Especialização Inteligente. O Fundão é hoje largamente conhecido pela sua estratégia arrojada e bem-sucedida de atração de quadros qualificados a um território que enfrenta como outros os efeitos do inverno demográfico. Há tempos, um programa de televisão falava de mil trabalhadores a trabalhar no concelho em programação e software e da estratégia de acolhimento compreensivo que a Câmara Municipal desenhou, com relevo para a política de habitação. O mesmo programa assinalava que Belmonte estava a ensaiar uma abordagem do tipo.

Mais a sul, o jornal Público, sobretudo através da pena e investigação do jornalista José António Cerejo, tem desde já há longo tempo focado a atenção em situações dúbias e menos claras, com algumas condenações à mistura, que têm o núcleo local do Partido Socialista (Castelo Branco e Idanha) no foco das atenções. A investigação de Cerejo é tão persistente e documentada que muito dificilmente a agitação não terá fundamento, por mínimo que seja. A investigação foi publicada e por isso dispenso-me de fazer chover mais no molhado. O que me interessa é sublinhar que esta suspeição de coisas menos claras ou canónicas apaga qualquer outra imagem que o território da Beira Baixa queira fazer passar, como por exemplo se passava lá atrás com a dinâmica económica da sua zona de acolhimento industrial.

Para complicar ainda mais as coisas e ao contrário do que era usual acontecer, com os maus ventos a circular das zonas de maior concentração demográfica e poder económico para o interior e para a baixa densidade, eis que na última investigação sobre a Câmara Municipal de Lisboa, que tem politicamente um claro alvo em Fernando Medina, personagens desse núcleo político da Beira Baixa aparecem referenciados no processo. O que nos transporta para um nível mais elevado de contaminação. A toxicidade não foi contida por terras da Beira Baixa e aparece reerguida na capital.

Isto está preto.

 

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