quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

DE NOVO PELA ECONOMIA E PELOS EMPREGOS VERDES

 


(Desta vez a intempérie lisboeta que impediu a realização do seminário do Centro de Relações Laborais em Dezembro não se manifestou e foi possível concretizar o seminário de apresentação do estudo sobre a economia verde e o mercado de trabalho pela equipa da Universidade do Minho, em que pontificam os Amigos Professores João Cerejeira e Francisco Carballo Cruz, além da Rita Sousa. Coube-me moderar um debate simpático que classifiquei no fim como uma mini-concertação social, de tal maneira foi distendido o diálogo que se travou na mesa entre os representantes da CIP Engº Jaime Braga, do SINDEL Rui Miranda, do grupo Pestana Pousadas Presidente Luís Castanheira Lopes e da CGTP Isabel Tavares (FESETE).

 

Tal como já referi no post que antecedeu a gorada tentativa de realização do primeiro seminário, o estudo realizado e hoje apresentado honra o papel do Centro de Relações Laborais (CRL) de cujo Conselho Científico faço parte com imenso prazer. A minha conceção da social-democracia e do socialismo democrático integra o diálogo e a concertação social como peça fundamental, mesmo que por vezes pareça estar em desuso ou seja atropelada de diferentes maneiras e feitios e por diferentes protagonistas.

Entre outras virtudes, o estudo da equipa da Universidade do Minho tem uma que me apraz especialmente registar. A abordagem que o estudo explora, talvez erradamente designada de “bottom-up”, rejeita a classificação prévia de setores de atividades considerados como verdes para estimar a evolução do peso económico e de emprego da chamada economia verde. A partir de uma metodologia utilizada nos EUA por uma organização chamada de O*NET, a base de partida são as profissões e as ocupações respetivas, analisadas do ponto de vista da sua relação com as problemáticas da economia verde, mas não só. A classificação é evolutiva e vai integrando o impacto sucessivo da transição energética e climática no exercício dessas profissões e recolhe também o parecer de empresas, sindicatos e gestores de recursos humanos. A rejeição do setor de atividade como base de partida é muito relevante, pois em empresas inseridas nos chamados setores verdes há empregos que não o são e em empresas que não pertencem a setores classificados como verdes existem empregos que devem ser considerados como verdes. A lógica setorial resulta das diferentes Contas Satélite que têm sido construídas pelos INEs deste mundo para o ambiente, mas para efeito de análise do impacto sobre os empregos e as competências não é um referencial adequado.

Passa-se algo de semelhante quando ouvimos dizer que, face aos restantes países da União ou da OCDE, a economia portuguesa exporta ainda muito pouco em setores de alta e média tecnologia. Esse número que é frequentemente ouvido resulta de uma classificação a priori de um setor como sendo ou não de alta e média tecnologia e não tem rigorosamente nada em conta que num setor estatisticamente classificado de média e alta tecnológica pode haver muitas ou poucas empresas que merecem essa classificação.

Pois o estudo da equipa do Minho parte de uma classificação de profissões que é reconvertida em função da nossa classificação nacional das profissões, podendo assim mobilizar dados dos Quadros de Pessoal, que são a nossa única fonte estatística regular que integra profissões.

O comentário ao estudo realizado pelo Professor Francisco Lima, que hoje é presidente do INE e que integrou inicialmente a equipa científica do CRL, desenvolveu bastante esta virtude do estudo, analisando o seu potencial de desenvolvimento para compreender ainda melhor que tipo de transições no mercado de trabalho a adaptação à economia verde estará a produzir.

No painel que moderei, discutiu-se bastante a potencialidade da contratação coletiva integrar estas questões da adaptação profissional requerida pela adaptação energética e climática. O que não deixa de ser uma conclusão agradável, pois estavam representados no painel a UGT e a CGTP, o grupo Pestana (Pousadas) que fez uma profissão de fé nas valias ambientais como fonte de procura turística e a CIP, representada por um homem com grande experiência da indústria, o Engº Jaime Braga, que vincou muito a necessidade de recuperação dos velhos especialistas da recuperação e reparação de equipamentos, numa alusão clara à economia circular.

Estava a fechar a moderação do debate com a referência à já referida mini-concertação social quando chegou a Ministra Ana Mendes Godinho que nos brindou com uma intervenção de encerramento muito informal, viva, de improviso, o que só lhe ficou bem e cativou o auditório. O tema central foi a contratação coletiva dinâmica e as medidas que o governo tem implementado para incentivar a participação de empresas e trabalhadores no processo. Os números apresentados para 2022 refletem uma excelente recuperação em termos de acordos e de trabalhadores envolvidos após a pandemia. Tal foi essa desenvoltura e informalidade coloquial, que dois participantes na sessão, com horário de comboio apertado para a sua viagem para o Algarve, se levantaram e de modo muito educado saudaram a Ministra, pedindo desculpa pelo facto de irem ausentar-se, mas justificando o facto com um comboio que não podia ser perdido.

Gosto destes processos de informalidade cívica e política. Refiro-o aqui, não pelo prazer do exotismo, mas fundamentalmente porque devo reconhecer que a Ministra Ana Mendes Godinho tem sido para mim uma das grandes surpresas deste Governo e digo-o com toda a liberdade, porque nunca tive qualquer relação pessoal, profissional ou académica com a Ministra.

Resumindo, uma boa razão para uma ida a Lisboa, sem intempérie desta vez, e acompanhada de almoço com o meu filho mais novo, num restaurante perto do Citeforma na Marquês de Tomar, o Maria Peixeira, que recomendo. O risoto de ameijoas, lingueirão e vieiras estava excelente.

 


Nota final

Para me manter no registo da informalidade cívica e política que tanto aprecio, não posso deixar de referir a frontalidade da primeira-Ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern, que anunciou não querer recandidatar-se. Simplesmente, porque achou que já não tem energia suficiente para continuar a sacrificar a sua vida pessoal e familiar. É assim que gosto que os políticos assumam a política. Podem-me dizer os de má vontade que algum rabo de palha terá Jacinda para explicar esta retirada. Não o creio. Não estamos cá no burgo, mas antes na Nova Zelândia, do outro lado do mundo.

(Redigido e publicado no Alfa Pendular das  19.09, hoje bem mais equilibrado e estável do que o costume).

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