(O primeiro semestre do ano de 2022 foi marcado por alguns revezes bolsistas das empresas tecnológicas, que teve alguns efeitos em cadeia, tais como o recuo do capital de risco para o empreendedorismo de base tecnológica e a queda assinalável de rendimento dos trabalhadores do setor, cuja grande parte é paga em títulos das empresas em que trabalham. Não tenho sabedoria ou conhecimento para vos explicar os possíveis laços existentes entre o desmoronamento das cripto moedas e esta crise das tecnológicas. Limito-me a constatar a evidência de que essa crise terá atingido um ponto mais alto, dando atenção à devastadora destruição de emprego que os gigantes tecnológicos têm anunciado por estes dias. Não é coisa que não se soubesse do passado mais ou menos recente. Mas a sedução do high-tech tem memória curta e por isso rapidamente se esquece a volatilidade destes mercados, onde rapidamente os passes de mágica se substituem ao realismo dos números.
Os números anunciados pelas empresas em questão são o outro lado da moeda do gigantismo concentracionário instalado no setor. 12.000 lay-offs na Google, 10.000 na Microsoft e 18.000 na Amazon são grandes números, com a particularidade de envolver a própria Microsoft que nem sequer integrava o grupo das mais expostas à capitalização bolsista e também tendo em conta que esta última e a Google tinham evitado a atrás referida queda bolsista do primeiro semestre de 2022. A glamourosa Apple é hoje a única exceção a essa tendência de libertação em massa de emprego, o que deve agradar postumamente a Steve Jobs.
Imagino que todos compreendam que esta destruição de emprego não significa de modo algum o fim da corrida para estes gigantes, que continuam a pontificar entres os conglomerados empresariais com maior valor de mercado, até porque a libertação de emprego atrás referida é ainda relativamente pequena quando comparada com a massa total de emprego por eles apropriado.
O que parece estar a acontecer é a alteração da relação entre o valor intrínseco do high-tech e a sua capitalização bolsista, contribuindo para algum obscurecimento da sedução mediática deste setor e principalmente a perturbação das vias que conduziam a rápidas e vertiginosas capitalizações bolsistas.
Admito que possa estar a acontecer algo do género. O high-tech tem-se fartado de produzir e disseminar inovação que impacta seriamente os processos de trabalho dos outros e interfere na relação entre empregos destruídos e novos empregos criados. Estes setores concentram a esperança de que a história se repita e que a criação de novo emprego acabe por compensar aquele que ajuda a destruir. O que estes números revelam é que o próprio epicentro da inovação não está imune à perturbação. É como se a estafada distinção entre novo (fascinante) e o velho (ultrapassado) atravessasse o próprio centro da disrupção. Por isso, a sedução do high-tech terá de suscitar uma outra cosmética.
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