O Itamaraty é um monstro da arquitetura mundial, obra do incomparável génio de Óscar Niemeyer. Pela sua estrutura, as suas salas, os seus corredores, as suas escadas, os seus jardins, as suas paredes, pela beleza da arte que ilimitadamente exibe. A que tive a oportunidade de parcialmente aceder por força da receção oferecida pelo casal presidencial no passado dia primeiro ao final da tarde, na conhecedora companhia de Dorota Ostrowska-Cobas, uma simpática e eficaz diplomata polaca que ocupa um posto de relevância na Delegação da União Europeia em Brasília (liderada pelo embaixador espanhol Ignacio Ibáñez).
Claro que o Itamaraty funciona também como a sede do Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil, agora novamente dirigido pelo Chanceler Mauro Vieira (que já servira no tempo de Dilma e é reconhecidamente um próximo do todo-poderoso Celso Amorim), um verdadeiro estado dentro do Estado à boa imagem do que simbolicamente acontece com os grandes países e respetivo peso específico em termos diplomáticos. Acrescento uma nota pessoal: na ocasião, pude por lá trocar umas boas e esclarecedoras palavras sobre a matéria com a atual Diretora-Geral do marcante Instituto Rio Branco (a escola diplomática do Brasil), embaixadora Gilvânia Maria de Oliveira.
O ambiente era festivo e, para quem conhece as receções nacionais, profundamente retumbante, porque incomparavelmente diverso e cosmopolita (como, aliás, igualmente revela o original teor do menu, reproduzido mais à frente). Não deixando, por isso, de ser mais verdadeiramente a festa da diplomacia e dos seus protagonistas do que a dos políticos propriamente ditos (que, não obstante, abundavam em todas as escalas locais, nacionais, regionais e internacionais, incluindo muitos dos recém-empossados novos ministros e o novo presidente do BNDES Aloízio Mercadante, para além do nosso ex-primeiro-ministro José Sócrates).
O que nos reserva o próximo futuro do Itamaraty? Eis uma das atuais perguntas determinantes, dado que as opções de política que serão levadas a cabo por Vieira (e Amorim) são objeto de uma enorme controvérsia. A qual se pressentia, aliás, um pouco por todos os cantos do convívio, designadamente no tocante a uma possível inversão da “desastrosa” preferência chinesa adotada desde a primeira passagem de Lula (uma dúvida sobre que ninguém arrisca grandes vaticínios), a uma especial atenção às matérias ambientais (que parece adquirida), a algum crescendo liberalizador (que não estará completamente no horizonte) e, no que mais diretamente nos respeita, às relações com a União Europeia (Mercosul e não só) e a uma esperada retoma de um foco multidimensional na lógica de um espaço luso-brasileiro que aguarda luz verde há duas décadas e tem hoje ainda mais substantivas razões de ser.
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