terça-feira, 24 de janeiro de 2023

UMA LEITURA LIBERAL PELO OLFATO

Realizou-se neste fim de semana a Convenção do “Iniciativa Liberal” que tinha como principal ponto da sua ordem de trabalhos o da eleição de um novo líder para substituir o demissionário João Cotrim de Figueiredo. Do que pude perceber, a reunião magna do jovem partido desenrolou-se num ambiente bastante conflitual e muito pouco propenso a discutir ideias e diferenças entre elas, o que é tanto mais lamentável quanto se trata de uma organização que surgiu no nosso espaço político com proclamações de novidade em relação aos modos e às práticas dos “velhos partidos” do prevalecente “bipartidarismo”. Mas adiante.

 

Confesso que esperava mais do dito conclave e dos seus principais protagonistas. Até porque faz sentido e importa mesmo que exista uma alternativa liberal sólida na política nacional. O que, apesar dos recursos de Cotrim de Figueiredo e de Carlos Guimarães Pinto, a meu ver ainda não aconteceu em grau suficiente de robustez e qualidade por razões que essencialmente desconheço ― afinal os liberais com quem me confrontei ou a quem acedi ficaram-se pelo Ricardo Valente, vereador da Câmara do Porto, e pelo Tiago Mayan Gonçalves, candidato nas Presidenciais e presidente de uma junta de freguesia ― mas tendo a atribuir a uma ideologização desligada e absolutamente dominante (e às vezes chocante) e a uma confrontação preferencialmente apontada ao “socialismo” (versus uma afirmação mais equidistante e madura).

 

De entre os candidatos em disputa pela liderança, um era outsider relativamente aos outros dois. E confesso que não compreendi em toda a plenitude o que distinguia estes entre si para além de questões de personalidade e posicionamento de maior ou menor continuidade face ao passado recente, com Rui Rocha (o vencedor final) a aparecer como mais próximo de Cotrim e Carla Castro como alguém com pretensões de dele se distanciar por caminhos mais próprios. Tricas à parte, e não tenho dúvidas de que elas existem e até podem ter fundamentos mais ou menos substantivos, Carla pareceu-me portadora de uma maior espessura política e combatividade efetiva em relação a um Rui menos preparado e mais voluntarista. Sendo que, quando os “melões” se começarem a abrir decisivamente, tudo até pode acontecer ao contrário disso mesmo, especialmente porque o que vai estar em causa passará sobretudo pela capacidade real que venham a manifestar para conduzir o partido rapidamente a vencer a divisão que evidenciou e a conseguir virar-se determinadamente para o seu exterior.

 

Tudo isto num quadro em que, como alguém dizia por estes dias lembrando casos anteriores da nossa própria realidade, não está escrito na pedra que os partidos novos e promissores tenham vindo para ficar e não possam, portanto, ir perdendo capacidade de afirmação e expressão até a um eventual desaparecimento. O que seria, repito, indesejável a muitos títulos.


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