segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

AGUARELA DO BRASIL (III)

Enquanto se vivem horas relativamente dramáticas em Brasília e um pouco por todo o Brasil, fruto de uma inacreditável tentativa de assalto (simultaneamente amadora e vândala) aos “poderes” instituídos por parte de apoiantes (qualificados ou, pelo menos, patrocinados) de Bolsonaro ― quem foi que disse que os dois candidatos à presidência eram “farinha do mesmo saco”? ―, cá prossigo o breve roteiro impressionista da minha recente passagem por tais paragens.

 

Hoje para louvar a corajosa decisão tomada pelo presidente Juscelino Kubistschek de Oliveira (1956-1961) no sentido de retomar o projeto de construir uma nova capital federal (Brasília) com vista a potenciar acrescidamente a integração do país e o desenvolvimento do seu interior (outras considerações, também possíveis, ficam de fora do âmbito deste post). Escolhendo para tal a genialidade de Óscar Niemeyer e Lúcio Costa (um arquiteto cujo espólio consta atualmente do acervo à guarda da Casa da Arquitetura, em Matosinhos).

 

Pessoalmente, já visitara a capital brasileira, então numa incursão bem rapidinha de que retivera apenas a beleza de algumas opções arquitetónicas (urbanas e monumentais, com destaque para a Catedral) e a escassa vivencialidade humana que me parecera ser oferecida pela cidade. O que desta vez só reforcei, no que toca àquele primeiro lado (o Palácio da Alvorada, o Brasília Palace Hotel e todo o seu enquadramento, o Lago Paranoá e a ponte que o atravessa, a triangular Praça dos Três Poderes e os edifícios circundantes, os museus e a restante e vasta monumentalidade existente), e pude constatar como relativamente injusto, no que toca ao segundo, designadamente porque tive o grato prazer de aceder à chamada “quadra-modelo” e assim melhor compreender a lógica das “quadras” que subjazia ao espírito dos autores da obra urbana (e de algum modo impera, mesmo quando o concreto da mesma evidencia alguma incompletude em relação ao “Plano Piloto” ou algumas visíveis disfunções face às exigências da vida de todos os dias) e quanto os “espaços sem destinação” e o verde dominam as escolhas urbanas ao alcance do quotidiano das pessoas.

 

Da utopia à luz ― e até à mística, como dizia uma apaixonada intelectual que nos guiou ―, assim resultou a leitura de Brasília que passei a reter como mais pertinente e justa.


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