A Taça da Liga, durante anos conhecida por Taça Lucílio Baptista ou Taça Benfica e preferencialmente abordada por alguns como uma competição para rodar jogadores, tem vindo a assentar arraiais no seio das provas futebolísticas nacionais. A exemplo, aliás, das suas congéneres em países com maior relevância no desporto-rei. O mérito cabe por inteiro aos mais recentes responsáveis da Liga de Futebol e ao modo como souberam ir adaptando o seu formato, forçando a “verdade desportiva” e valorizando o troféu em disputa junto dos clubes e seus adeptos e da comunicação social. Uma demonstração cabal do facto está no facto de o quase eterno vencedor dos primeiros anos (sete taças em nove disputas desde 2008), o Benfica, já não vencer a prova desde 2016 e assim ter sido dado lugar a um maior equilíbrio de titulados (Sporting por quatro vezes, Braga, Moreirense e FC Porto, uma vez cada).
Pois foi neste Sábado que o FC Porto conquistou a dita em Leiria, após quinze anos a seco (entre opções desvalorizativas e derrotas azarentas em finais, como ocorreu em Braga por grandes penalidades em 2019). Uma vitória que se tinha tornado imperiosa, após a credibilização do troféu, e que coloca os portistas como conjuntural e historicamente hegemónicos no conjunto das provas futebolísticas internas, seja porque passaram a ficar na posse da totalidade dos quatro grandes troféus em presença (Campeonato, Taça de Portugal, Supertaça e Taça da Liga) seja porque atingem 83 títulos e igualam (ou ultrapassam?) o Benfica na globalidade das conquistas oficialmente obtidas pelos vários clubes desde que há registos.
Dito isto, uma palavra sobre o jogo jogado. Fraquinho, bastante fraquinho, nada comparável com tempos não muito longínquos em que as equipas do FC Porto passeavam supremacia e classe pelos campos portugueses (e não só). As razões são conhecidas e têm sido aqui abordadas a espaços: passam sobretudo pela dimensão financeira (ou falta dela) e pelas restrições que a mesma impõe a entidades desportivas de países periféricos como o nosso, sem prejuízo da presença de outras de ordem organizativa, de gestão e de liderança. A meu ver, e em termos estritamente desportivos, o FC Porto de hoje conta com um bom treinador, especialmente bem-adaptado à sua circunstância possível, mas ainda assim marcado por manias e atitudes não consentâneas com uma leitura indiscutível em termos de afirmação internacional; e com alguns excelentes ou bons/prometedores jogadores (Diogo Costa, Pepe, Otávio e Taremi, no primeiro caso e minimizando alguns aspetos limitadores como a idade ou a irregularidade, e Uribe, Eustáquio, Evanilson, Galeno e Pepê, no segundo caso) que são forçados a conviver com outros de menor qualidade (Wendell é a melhor ilustração, mas também André Franco, Rodrigo Conceição, Fábio Cardoso e até Marcano e Zaidu) ou personalidade (João Mário, David Carmo, Grujić, Toni Martinez, Namaso e Veron) num puzzle certamente complexo de gerir por manifesta falta de compatibilidade entre classe intrínseca e picos de forma física e psicológica ― uma equipa espremida ao tutano que vai sendo miraculosamente capaz de resistir e ganhar com bastante frequência por engenho e arte do treinador. E, cá volto à final de Leiria, o FC Porto venceu mas não esmagou como correntemente acontecia no passado, quase apetecendo até desabafar como o fez um amigo: “a jogar assim, só ganhávamos ao Sporting!”.
Foram-se os anéis, às vezes a preços de saldo, outros irão pela certa (Diogo Costa já está na fila), os jovens não aparecem na qualidade desejada (acontece-me com frequência pensar na estrutura organizativa das nossas “escolas” e do nosso scouting) e as aquisições estão proibidas, uma situação em que nos resta levantar a cabeça e sofrer para continuar a vencer e segurar a hegemonia tão dificilmente conseguida. Sem ilusões demasiadas, todavia, de que alguma coisa de estrutural não tenha de acabar por acontecer.
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