Enquanto aguardo o meu transporte para a receção do Itamaraty, esticado ao sol de uma Brasília que acordou bastante quente (a temperatura ronda os 27 graus) e menos batida do que o que habitualmente acontece por efeito de chuvas fortes mas rápidas, penso com escasso otimismo e alguma angústia no que poderá reservar-nos 2023, a mim, a nós e a todos ― porque, por voltas que dê, não consigo no essencial escapar à realista perspetiva (“Feliz Año Peor”) com que El Roto ontem nos brindou nas páginas do “El País”, e que acima reproduzo com a devida e sempre merecida vénia, nem encontrar argumentos capazes (com ou sem coach motivacional, como sugere a vinheta do “El Mundo”) de me levarem a confiantemente aderir à possibilidade de se evitar o pior.
Meanwhile, cá estou a viver um bom momento neste magnífico “Hotel Palace” que Oscar Niemeyer genialmente arquitetou no meio da cidade surpreendente que Juscelino Kubitschek sonhou e ele planeou (com Lúcio Costa), um momento que é sobretudo o de um desejável regresso da esperança ao Brasil que o pesadelo de Bolsonaro destruiu (com bases assentes, é preciso dizê-lo, em antecessores lamentáveis como Dilma e Temer, já para não enveredar pelas marcas deixadas pelo complexo legado da passagem do PT pelo poder). Os jornais de hoje dizem tudo: uma nova oportunidade para Lula, um homem que assim vai ter condições para reescrever o seu legado (a agenda é múltipla e muito carregada de desafios, da pobreza à polarização política, do ambiente às opções internacionais) mas que se defrontará com um país que em muito já nada tem a ver com aquele que começou a comandar há vinte anos. E por aqui me fico, por ora, na boa expectativa de um resto de dia inesquecível.
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