sexta-feira, 14 de julho de 2023

BASEADO NUMA HISTÓRIA VERDADEIRA…

Não resisto a aqui relatar sumariamente uma incrível notícia que apanhei na imprensa internacional. Trata-se da transferência de Leslie Van Houten da prisão onde esteve mais de 53 anos a cumprir pena associada a dois assassinatos cometidos em 1969, no quadro do célebre caso Charles Manson, para uma residência transitória na Califórnia (algo equivalente à preparação de uma liberdade condicional prevista para o próximo ano e já por diversas vezes vetada pelo governador do Estado).

 

Para quem é demasiado jovem ou já não se recorda do essencial, relembro que a seita liderada por Charles Manson tinha o seu centro de operações comunitárias num rancho californiano de onde perpetrou ações terroristas contra empresários e outros ricos habitantes locais, tendo ficado especialmente famosa a noite do assassinato da atriz Sharon Tate e de outras quatro pessoas em casa do cineasta Roman Polanski. Manson e quatro dos seus cúmplices chegaram a ser condenados à morte em 1971, mas a pena seria posteriormente comutada para prisão perpétua e ele acabou por morrer de causas naturais em 2017. No que toca a Leslie, a sua principal participação ocorreu num ataque e assassinato de um casal em que cobriu a cabeça da mulher com uma fronha enquanto os seus cúmplices a esfaqueavam para depois desferir sobre ela mais catorze golpes com vista a certificar-se de que ela estava morta, ajudando finalmente os seus parceiros a usarem o sangue do casal para escreverem mensagens ameaçadoras nas paredes da residência.

 

A história de Leslie tem elementos típicos  como o divórcio dos pais, uma viciação em drogas pesadas desde os 14 anos e um aborto após uma gravidez impensada, com o acolhimento no rancho de Manson a representar uma confortável espécie de nova “família” ― e elementos raros ― como a sua impecável conduta prisional, que também se fez de um aproveitamento do tempo para estudar (bacharelado e várias pós-graduações) e se dedicar longamente a atividades de terapia, autoajuda e reflexão, deixando sinais fortes de arrependimento pelos seus crimes.

 

No essencial, e para além dos detalhes específicos em presença, a história de Leslie levanta questões difíceis ― como a que está associada à decisão de a libertar, algo entre o “há fortes evidências da sua reabilitação e nenhuma evidência de que ela represente um perigo atual” e o “mais de 50 anos depois de esses assassinatos horríveis terem sido cometidos, as famílias das vítimas continuam a sentir o impacto” ― e uma dúvida essencial do ponto de vista social e psicológico: conseguirá ela aprender a viver em liberdade aos 73 anos e após tantas décadas fechada ao mundo?

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