sexta-feira, 28 de julho de 2023

NA MORTE DO SÉRGIO

O Sérgio Lopes era um dos meus amigos mais antigos e mais constantes. Conheci-o já na Faculdade de Economia do Porto, há mais de cinquenta anos, e com ele privei muito de perto desde aí (tendo sido talvez o colega do mesmo curso com quem mais estudei em conjunto e trabalhei em grupo). Não me cabe dele fazer aqui o elogio, o que seria talvez até despropositado, mas sempre referirei que o Sérgio/Serginho tinha algo de especial e que sempre registei com apreço: era de todos os convivas (primeiro muito jovens e depois assaz maduros) o mais intelectual (no verdadeiro sentido da palavra, i.e., de alguém que tinha genuíno interesse em saber e compreender) e o mais aberto (quer no sentido de uma tolerância quase natural quer no sentido de uma significativa ausência de tiques machistas próprios da sua geração). Dizer no contexto que ele era um tanto fonas apenas servirá para reforçar a ideia de que não existe ninguém perfeito, apesar de a dita caraterística também ter sido minimizada com o andar do tempo. Os momentos que recordo com o Sérgio são variadíssimos, das noites de estudo no Orfeuzinho às preparações de programas e aulas, das conversas sobre as meninas de Álvares Cabral às angústias pessoais que iam emergindo, das discussões políticas de todas as fases aos filmes e livros que careciam de (re)interpretação, dos piqueniques na Região às férias na Costa Vicentina e no Algarve, da épica festa de casamento no Parque da Aguda à partilha telefónica a partir de Paris da alegria pelo nascimento da Inês (levando, logo aí, a que a minha filha em gestação tivesse de passar a chamar-se Filipa), da passagem comum por Lisboa e suas novas oportunidades de intercâmbio às falas sobre as nossas posteriores incursões profissionais (no caso dele, pelo setor das águas), das inúmeras sessões do cineclube em que tanto fazia a diferença à última e impressionantemente esperançosa conversa de há dias na sua casa de Leça. Não serei grandemente inovador se afirmar que o Sérgio deixou marcas profundas da sua passagem e que sempre ficará, por isso, entre nós. Junto um beijo fraterno à Palmira e à Inês, afinal quem melhor pôde beneficiar da generosa personalidade daquele que foi um companheiro de vida e um pai apaixonado.

Sem comentários:

Enviar um comentário