Para variar, a crónica semanal do diretor do “Expresso” (João Vieira Pereira, JVP) fez-se pela positiva, pelo menos nos três primeiros parágrafos que acima reproduzo. Chega a qualificar de notável o trabalho feito nos últimos anos na estabilização das contas públicas, salienta que a imagem externa do país se alterou e fala da “mestria invulgar” com que Mário Centeno conseguiu manter uma disciplina férrea nas contas públicas. Não sem louvar o papel do programa de ajustamento na criação de condições políticas, económicas e sociais para o resultado alcançado.
Escolhi abordar hoje este tema porque ele cruza diretamente com o gráfico abaixo, que encontrei na minha leitura periódica da “Le Monde” e que tem uma certa dimensão de raridade pelo modo como situa positivamente Portugal no contexto dos grandes países europeus em sede de previsibilidade do défice público para 2026. Depois do “rótulo de caloteiros” que nos era dirigido há não muito tempo, tal como alude JVP, “o valor desta conquista é enorme”.
Não obstante, e dito o que fica dito, entendo pessoalmente que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Ou seja, que uma análise objetiva da matéria não apenas não deverá esquecer que a estabilização das contas públicas conteve elementos altamente críticos (veja-se, por exemplo, a evaporação do investimento público ou o estrangulamento das políticas sociais) como também resultou de elementos dotados de precariedade conjuntural (veja-se, por exemplo, a “ajuda” da inflação nas proezas de Medina). Ficam, em qualquer caso e é bastante, a folga em que vamos vivendo e a respetiva alimentação de expectativas positivas (não anda tudo para aí a dizer que a economia vai excelente?), a redução que lentamente vai acontecendo na dívida e as implicações da dita boa imagem externa na possibilidade de falarmos um bocadinho mais alto lá fora e até talvez de sermos mais ouvidos em sequência.
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