quarta-feira, 12 de julho de 2023

ERDOĞAN ÄR FANTASTISK

(Ilias Makris, https://www.ekathimerini.com e Jeff Danziger, http://www.nytimes.com) 

Após aquilo a que assistimos ontem ― o mesmo Erdoğan que andou quase um ano a recusar a integração da Suécia na NATO, afirmando com alguma dureza que tal não ocorreria sem alterações internas de monta no acolhimento de “terroristas” por parte de Estocolmo, a vir declarar em Vilnius, no quadro da Cimeira da organização, que aceitará a dita integração (o “logo que possível” da ratificação é apenas um preciosismo para tentar disfarçar uma mudança de posição em toda a linha) ―, sou levado a concluir por uma de duas: ou Erdoğan é, de facto, um troca-tintas que ladra mas não morde ou os supostos estadistas ocidentais (liderados por um Biden contemporizador e já de si pouco enérgico, ademais lamentavelmente isolado em termos estratégicos pelo acanhamento obediente de alguns como Stoltenberg, pela aflitiva falta de rumo dos “grandes” da Europa e pelo compreensível coeficiente de medo que é visível nos que vivem geograficamente mais próximos da Rússia) são realmente gente pouco firme na sua capacidade para imporem o que os princípios tenderiam a deles exigir em momentos difíceis, surgindo então o fantastisk Erdoğan como uma velha raposa que disso mesmo se aproveita com mestria em favor dos seus interesses pessoais e nacionais e a coberto de contrapartidas de múltiplo tipo e bastante indignidade. Em toda a sua diferença, a situação faz-me lembrar a ocorrida com a crise dos refugiados em 2015, e subsequentemente, quando o presidente turco aparentou ser colaborante mas só se deixou convencer por Angela Merkel a muito bom preço. Ou seja, vista a coisa com olhos de ver são de temer finais indesejáveis, embora uns mais gravosos do que outros: um qualquer regresso da Turquia à negociação de uma presença na União Europeia (em tempos afastada após debates muito violentos sobre a matéria, designadamente em França), uma qualquer entrada extemporânea da Ucrânia na NATO (como também da União Europeia por força das insensatas démarches de Ursula nesse sentido) ou uma qualquer manobra perigosa vinda de uma acossada Rússia.

Sem comentários:

Enviar um comentário