quinta-feira, 6 de julho de 2023

ENTÃO A MAIORIA ABSOLUTA NÃO ERA PARA NÃO SER PODER ABSOLUTO?

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt

Aqui venho declarar, do alto dos meus direitos cidadãos que não da minha completa irrelevância política, quanto desgosto do que por cá vai sucedendo na vida pública. Refiro-me especialmente ao “abuso de posição dominante” por parte do Partido Socialista que se nos revelou ontem por via da apresentação do relatório preliminar da Comissão Parlamentar de Inquérito pela deputada socialista Ana Paula Bernardo (mais uma ilustre desconhecida, aliás eleita como número seis pelo círculo do Porto, embora nada parecendo ter a ver com a Cidade e a Região, que seguramente ascenderá à ribalta por relevantes serviços prestados). A proposta apresentada é no mínimo indecente, como aliás se percebe facilmente pelas reações de desagrado de toda a Oposição (contenda político-partidária à parte); e é também, além disso, vergonhosamente ofensiva dos portugueses que admitiram estarmos perante um trabalho de inquirição marcado pela seriedade e pela vontade de esclarecimento. A pouca inteligência com que a relatora abordou o tema, pergunto-me com que influências laterais (de Eurico Brilhante Dias a António Costa, passando por vários outros intermediários possíveis), terá por racional a ideia absurda de que deve manipular-se um relatório desta natureza e resultante de um longo e mediatizado processo de audições, para o que a tática adequada corresponde a começar por se esfriarem completamente as expectativas através da omissão de assuntos graves e que foram recorrentes ou da desculpabilização axiomática de qualquer governante ou ministério envolvido; talvez para mais tarde, num fogacho contemporizador, se virem a aceitar em demonstração de abertura duas ou três considerações de outros partidos, desde que não excessivamente suscetíveis de criarem mossa em relação à totalizante ideia de fundo desenhada pelo “tranquilo e descansado” primeiro-ministro. Diga-se o que se disser, o facto é que estamos perante uma autêntica vergonha democrática, bem merecedora do mais veemente repúdio ― não pode valer tudo em nome de interesses afinal particulares em última instância! De notar, finalmente, que, por incrível coincidência de dia, tal vergonha acabou por ser assinalada no Parlamento com a estranha e triunfante chegada de um Pedro Nuno Santos “em versão popstar”. Não teremos mesmo emenda?

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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