terça-feira, 11 de julho de 2023

VANTAGEM CONSOLIDADA, MAS ATÉ AO LAVAR DOS CESTOS...

(Ulises Culebro, http://www.elmundo.es Agustin Sciammarella, http://elpais.com) 

Tenho vindo a acompanhar com especial interesse a situação político-eleitoral em Espanha e, neste quadro, confesso que estava curioso por ver Sánchez e Feijóo em ação num debate público e cara-a-cara, aliás o único agendado para esta campanha. Fui procurar aceder à respetiva visualização e dela retirei uma leitura relativamente clara sobre aquilo que poderia designar por uma estranha deceção (Sánchez) e uma cuidada gestão (Feijóo) ― de facto, e como bem revelam os títulos dos principais jornais diários (ver abaixo), o debate foi bronco y estéril mas foi também elucidativo quanto ao inesperado nervosismo defensivo que se apoderou de Sánchez na pior das alturas e quanto ao profissionalismo sem grandes alardes com que Feijóo encarou a sua tarefa (incluindo um detalhe comunicacional fino e bem estudado, particularmente patente naquele momento em que sacou de uma proposta de acordo entre moderados e contra os extremos, assinando-a com aparente convicção à vista dos espanhóis).

Um outro aspeto que marcou largamente o debate foi a argumentação algo passadista de Sánchez, a qual foi de tal modo obsessiva que até levou o cartunista Tomás Serrano (ver abaixo) a resumir a noite colocando Abascal como uma espécie de coadjuvante objetivo colocado ao seu lado na mesa do debate. Com o mais fleumático Feijóo a chamar a atenção para um certo paralelismo relativamente aos apoios da extrema-esquerda e dos nacionalismos (sobretudo o mais problemático Bildu) à governação do PSOE, na atualidade ou num indesejado futuro hipotético.


(Tomás Serrano, https://www.elespanol.com)
 

No termo da minha visualização, tirei a conclusão de que Feijóo tem realmente a porta bem entreaberta para chegar à Moncloa. Uma conclusão algo convicta mas que ainda tem, obviamente, o seu quê de precária à luz de algum grau de incerteza que decorre da análise das diversas sondagens existentes (vejam-se abaixo os gráficos que traduzem a respetiva média, tal como elaborados pelo “El País”). Ou seja, o debate parece e pode efetivamente ter sido um ponto de viragem definitivo em favor do PP, sem prejuízo de talvez ainda podermos assistir a uma qualquer combinatória de três situações de sentido contrário: assistirmos à irrupção de um último fôlego do atual chefe de governo (jogando certamente com um mix entre dinheiros europeus e temorosas heranças), à emergência de alguma soma que se veja por parte do “Sumar” ou a uma afirmação mais radicalizada por parte de um Vox com manifesta necessidade de se impor no quadro de uma relação de forças interna à direita que se lhe vai mostrando desfavorável. No fundo, ainda faltam onze dias para conhecermos os ventos que de Espanha irão passar a soprar.


(Gallego & Rey, http://www.elmundo.es)

Termino com uma nota lateral mas que reputo de curiosa, assente nos gráficos abaixo reproduzidos. O primeiro evidencia o voto por género, mostrando que são as mulheres a franja mais moderada do eleitorado (voto PP+PSOE muito maior do que nos homens, que optam mais significativamente pelos partidos mais extremados) e que poderá ser o eleitorado feminino a ter a voz mais determinante no resultado final. O segundo aprofunda o posicionamento do eleitorado dos dois maiores partidos em termos de idade, mostrando nomeadamente que o PSOE penetra melhor nos jovens do que o PP e que este penetra melhor do que aquele nas zonas mais cinzentas da população (algo que contrasta com o que conhecemos em Portugal, onde o PS vive bastante da camada mais envelhecida dos cidadãos). 



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