quinta-feira, 27 de julho de 2023

TERCEIROS A CONTAR DE ONDE?

Aqui está um bom exemplo do que finalmente significa o relativismo em matéria de avaliação económica. De facto, e para além de muitos elementos mais que sempre importará considerar, a situação portuguesa em matéria de dívida pública (como em tantas outras matérias económicas mais ou menos dependentes da atuação governamental) tanto pode ser lida como boa (a tendência conjunturalmente prevalecente nos opinion makers) como pode ser encarada como má ou, pelo menos, estruturalmente difícil. Senão vejamos, com o apoio dos dois gráficos acima em que Portugal surge no concerto europeu em terceiro pior lugar (terceira maior dívida dos países da União Europeia em relação ao PIB) e em terceiro melhor lugar (terceira maior redução europeia no último ano da dívida em relação ao PIB, num valor equivalente a 10,8 pontos percentuais). De notar ainda, por dever de justiça analítica, que os nossos atuais 113,8% de dívida em percentagem do PIB decorrem de uma evolução bastante marcante e já se situam bem longe dos casos mais negativos da Grécia (168,3%) e da Itália (143,5%) e se aproximam significativamente dos registos apresentados pelos países imediatamente seguintes (Espanha com 112,8%, França com 112,4% e Bélgica com 107,4%). Mérito às “contas certas” (que raio de maneira de nos referirmos à necessidade de controlar o endividamento!)? Sim de algum modo sim. Não fora o facto de as mesmas baterem de frente com outras necessidades objetivas da sociedade portuguesa, numa lógica desequilibrada que não nos isenta de alguns temores quanto ao futuro, e de as mesmas resultarem de aproveitamentos excecionais e altamente penalizadores quanto ao modo igualmente desequilibrado como a gestão pública aconteceu (cativações e desinvestimento público) e beneficiou de fenómenos exógenos (inflação) sem os colocar ao serviço do interesse da maioria dos cidadãos que pagam impostos. A entrevista de Medina ao “Público”, ontem, é bem reveladora de uma “estratégia” que lhe caiu no regaço e que ele e o primeiro-ministro procuram surfar em toda a linha ― do alto do meu desvio pró-estrutural, tendo a achar que ainda há muito que pode não correr tão bem quanto é proclamado pelo otimismo desbragado dos nossos dirigentes.

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