sexta-feira, 28 de julho de 2023

PERDI-LHE O JEITO?

 


(Cheiro a férias, a azáfama do costume com trabalhos para acabar, sempre em corrida contra o tempo, o cansaço de quem está prestes … mas ainda falta esgalhar os últimos obstáculos, consequentemente falta de energia e concentração para as reflexões do blogue e daí esta branca de quatro dias. No meio disto tudo, o desaparecimento de alguém muito boa praça, o Sérgio Hora Lopes, que encontrávamos sempre disponível para uma boa discussão, ultimamente sobre as questões climáticas e da água, tema da sua atividade profissional. Nestas brancas de alguns dias, chego a pensar que lhe perdi o jeito, que é desta vez que chega ao fim esta atividade incessante de reflexão e escrita, mas não, ainda não é desta, há que enfrentar o écran em branco, inventar temas ou então esperar simplesmente que a realidade nos inspire …)

Além das reflexões que a morte de alguém próximo sempre me desperta, não é fácil agitar a realidade destes últimos dias e nela procurar uma fonte de inspiração.

No rescaldo das eleições em Espanha, divido-me profundamente entre lamentar as condições de ingovernalidade que estão criadas (se Sánchez conseguir domesticar o Puigdemont das franjinhas terá direito a uma estátua na Plaza Cibelles) e rebentar de gozo com a tristeza feita revolta que grassa nas hostes do Observador. Inclino-me para o aspeto lúdico deste último gozo. A nossa direita mais agressiva e ideológica continua a debater-se com uma sociedade que os não compreende e que resiste a ser cobaia da experimentação social que os liberais ressabiados pretendem realizar. A sociedade espanhola não esteve disponível para patrocinar o retrocesso civilizacional que a chegada ao poder do VOX representaria e praticamente em simultâneo com esse banho de realidade as mentes iluminadas do Observador levaram no lombo com uma sondagem de opinião (CESOP – Universidade Católica) em que se torna claro que os militantes do PSD não olham de modo similar para a extrema esquerda (Bloco e PCP) e para o Chega, mas também a sociedade portuguesa em geral que confirma a sua sabedoria, não colocando no mesmo saco a extrema-esquerda e a extrema-direita. É a história, meus caros, ignorá-la conduz a passos em falso e todos prosseguirão com as suas mezinhas para encontrar uma força política que os compreenda e promova a experimentação social que tanto desejam. E sem Troika…

O PSD transforma-se assim num partido em que o pensamento de alguns dos seus iluminados dirigentes não compagina com o sentimento profundo do seu eleitorado e daí o seu comportamento errático. O PSD está transformado num sniper ou atirador furtivo contra o governo, aproveitando regra geral munições acionadas por outros e, claro está, o sistemático ceder de flanco de um Governo que não aferiu bem a qualidade das suas hostes e sobretudo os rabos de palha que os passados de alguns dos seus personagens teimam em fazer aparecer. Creio que o cansaço do eleitorado com esse comportamento errático algum dia há de revelar-se e Costa reserva as suas munições para uma entrada fulgurante em 2024 (Medina já levantou a ponta do véu).

Para mal das coisas, creio que o comportamento também errático de Marcelo anuncia um fim de mandato de desorientação. Veremos se não me engano. Mas o que se pressente não é lá muito promissor.

Para terminar a reflexão de reencontro com as páginas em branco, quedo-me com uma referência a uma imagem poderosa que percorreu mundo e as redes sociais nos últimos dias. Num hotel de luxo de S. Petersburgo, sua propriedade, o líder do Wagner Prighozin, em pose de homem de Estado, recebe e encontra-se com líderes africanos, países em que as forças mercenárias organizam a extração de rendas protegendo monopólios de Estado e a pouca vergonha de algumas lideranças. Se dúvidas houvesse quanto à dependência que Putin apresenta face ao poder do líder da força mercenária, a sua transformação em diplomata por força das armas mostra como o affair Prighozin está muito para lá da questão Ucrânia. Creio não haver certezas da autenticidade da imagem, mas independentemente disso o seu valor é simbólico. E esse é bem pesado.

Nota final:

Entretanto, já em Seixas, o anticiclone continua a proteger-nos e uma neblina fina e bastante húmida, diria que chove pacificamente, faz-nos esquecer os dramas de outros, esses bem mais graves.

 

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