No seu
habitual artigo das Terças-Feiras no JN, referia-se ontem o meu amigo Alberto Castro
a um relatório do Eurostat – dizendo que os custos por hora de trabalho eram,
em Portugal, menos de metade da média da Zona Euro e pouco mais de um terço dos
alemães – e a uma afirmação de Vítor Gaspar – dizendo que a redução em curso dos
nossos custos de trabalho, somada às reformas estruturais, permitiria estimular
a competitividade internacional dos sectores que produzem bens transacionáveis
– para evidenciar que “a crer no discurso do Governo, na versão Gaspar, a
descida dos salários mais as reformas estruturais seriam a panaceia”. Mas, e numa
muito pertinente perspetiva diversa, acrescentava também que “sem uma
transformação radical da nossa especialização produtiva, não há descidas
salariais que nos valham”.
Abaixo junto
três gráficos que elaborei com base nos ditos dados do Eurostat (“Labour Costs
in the EU 27 in 2011”, nota de imprensa de 24 de Abril) no sentido de ajudar a
estabelecer um ponto de situação estruturado sobre a matéria. O primeiro mostra
o enorme diferencial existente entre os níveis remuneratórios horários médios
vigentes no conjunto dos Estados membros (entre um mínimo de 3,5€ na Bulgária e
um máximo de 39,3€ na Bélgica), além dos diferentes graus de pressões salariais
verificadas no período pós-crise (desde 2008) e da posição relativa dos vários
países (ambos os aspetos deixando em aberto inúmeros filões possíveis de
análise).
Focando
apenas o caso português, sublinhe-se que o facto de ainda existirem dez países
detendo custos de trabalho inferiores aos nossos indicia com clareza até quanto
ainda poderíamos (poderemos?) vir a estar sujeitos a lógicas tecnocráticas e empobrecedoras
oficialmente tidas por virtuosas mas – também devido a uma concorrência em baixa
com economias dotadas de maior margem de manobra por não pertencerem à Zona
Euro, como é o caso de sete daquelas dez – competitivamente inconsequentes.
O segundo e
terceiro gráficos, ao mesmo tempo que hierarquizam os níveis salariais dos países
para o mais recente ano disponível (2011) – colocando-os por ordem decrescente
através, respetivamente, de uma recondução à base 100 dos 27 parceiros comunitários
(EU27) ou dos 17 membros da Zona Euro (EA17) – e assim tornam mais percetíveis
as comparações entre eles, permitem também consolidar o verdadeiro alcance do
que acima é sublinhado. Sobretudo na medida em que fazem ressaltar o logro em
que vamos vivendo, designadamente quanto à larga inoperância de uma aposta em
baixar salários numa “economia cercada no comércio internacional” (recorrendo à
expressão usada por José Félix Ribeiro em diversos trabalhos de cenarização realizados
no quadro do DPP, ver esquema) – nem dá para competir com a China (ou com a
Bulgária, a Roménia, a Polónia, a Hungria ou a República Checa) nem dá para
fazer face à qualidade da Alemanha (ou até da Itália).
Alberto
Castro tem razão, pois: “Para induzir a transformação necessária, as reformas
estruturais não são incentivo suficiente nem o mercado, só por si, nos levará lá.
Precisamos de uma política económica activa, com uma visão cosmopolita que
estimule a melhoria e a mudança.” E o “cartoon” de António (“Expresso”),
reproduzido a abrir este post (amarrados, às mãos de Gaspar e no meio da
ponte), ilustra-o sinteticamente à perfeição…
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