Já não é a primeira vez que
Fernando Ulrich se refere ao tema numa vã e desajeitada tentativa de explicar
por que razão o crédito tarda em chegar às empresas. Citando o Jornal de Negócios:
“O crédito às empresas não fica afetado pelo investimento em dívida pública,
que não consome capital e me permite ir buscar financiamento ao BCE”; “É um
tema que as pessoas não querem aceitar. Era bom que houvesse mais pessoas a
perceber que o problema da economia portuguesa não é o crédito mas a economia.
Os problemas estão na economia e nas empresas. É daí que se devia partir. Não
percebo o fascínio que os bancos causam. É infantilmente doentio”.
Esta posição enferma de uma
incompreensão dos mecanismos do capitalismo cuja matriz diferenciadora é o
processo de emissão da moeda bancária, tal como o mostrou Keynes, exemplarmente
diga-se. Quer isto significar que a economia capitalista é intrinsecamente uma
economia monetária e que, por conseguinte, o crédito é uma variável intrínseca
da economia. A moeda não é um véu. A emissão da moeda bancária constitui o
fator intrínseco da criação do capitalismo e o princípio do fim dos mecanismos
da moeda material. Por conseguinte, procurar ocultar esta dimensão intrínseca
com desajeitadas tentativas de criação de dicotomias como economia real versus
crédito não fica bem a bem do rigor e da literacia económica.
A vinheta de El Roto no El País
veicula uma perspetiva irónica de tudo isto. Com melhor ou pior cimento não há
de facto fluidez do capitalismo sem uma economia bancária saudável, bem
regulada e supervisionada.
Sem comentários:
Enviar um comentário