quinta-feira, 25 de outubro de 2012

INFANTIL E DOENTIA ILITERACIA ECONÓMICA



Já não é a primeira vez que Fernando Ulrich se refere ao tema numa vã e desajeitada tentativa de explicar por que razão o crédito tarda em chegar às empresas. Citando o Jornal de Negócios: “O crédito às empresas não fica afetado pelo investimento em dívida pública, que não consome capital e me permite ir buscar financiamento ao BCE”; “É um tema que as pessoas não querem aceitar. Era bom que houvesse mais pessoas a perceber que o problema da economia portuguesa não é o crédito mas a economia. Os problemas estão na economia e nas empresas. É daí que se devia partir. Não percebo o fascínio que os bancos causam. É infantilmente doentio”.
Esta posição enferma de uma incompreensão dos mecanismos do capitalismo cuja matriz diferenciadora é o processo de emissão da moeda bancária, tal como o mostrou Keynes, exemplarmente diga-se. Quer isto significar que a economia capitalista é intrinsecamente uma economia monetária e que, por conseguinte, o crédito é uma variável intrínseca da economia. A moeda não é um véu. A emissão da moeda bancária constitui o fator intrínseco da criação do capitalismo e o princípio do fim dos mecanismos da moeda material. Por conseguinte, procurar ocultar esta dimensão intrínseca com desajeitadas tentativas de criação de dicotomias como economia real versus crédito não fica bem a bem do rigor e da literacia económica.
A vinheta de El Roto no El País veicula uma perspetiva irónica de tudo isto. Com melhor ou pior cimento não há de facto fluidez do capitalismo sem uma economia bancária saudável, bem regulada e supervisionada.

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