quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A PROFISSIONALIZAÇÃO DO SAQUE

Tirei esta tarde uma horita para ouvir Vítor Gaspar em direto, naquela que foi, em menos de um mês, a terceira grande comunicação do Governo ao País (Passos a 7 de setembro, Gaspar I a 11 do mesmo mês e Gaspar II hoje). Devo começar por reconhecer que, após tanto ter mudado na sequência das reações suscitadas pelas duas e desastradas primeiras, esta foi muito bem cuidada na forma – nunca é tarde para recomeçar, pois…

Claro que Gaspar é Gaspar, como tão eficazmente  resulta da ilustração abaixo de Henrique Monteiro (http://henricartoon.blogs.sapo.pt) – o que não é, aliás, o menor dos seus muitos méritos. Não obstante, houve progressos nas palavras e até já fomos capazes de ouvir o senhor falar de receitas e despesas, público e privado, trabalho e capital, rendimento e património, grandes empresas e PME’s e por aí adiante, num interessante e certamente difícil assomo de realidade. Embora com a visível opção por diferentes níveis de abstração, isto é, pelo recurso às calibrações e opacidades consideradas necessárias…


Tudo visto e ponderado, sobra a mensagem central de um “aumento enorme de impostos”. E, dissimulações à parte, algumas bem marcadas constantes: fé no modelo, rigidez na compreensão da sociedade, impotência face a interesses, desconhecimento do aparelho de Estado. 

Ocorrem-me dois momentos, um já bastante longínquo e outro ainda muito recente:

·         a celebérrima gaffe do “enfim, é fazer as contas” que, desde os anos 90 do século passado, ficou gravada no curriculum político de António Guterres;

·         as sensatas referências do Governador do Banco de Portugal, há dias no Porto, na linha de que “o dever de uma comunidade é saber o que é que considera aceitável em termos de esforço tributário”.


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