Tirei esta tarde uma
horita para ouvir Vítor Gaspar em direto, naquela que foi, em menos de um mês,
a terceira grande comunicação do Governo ao País (Passos a 7 de setembro,
Gaspar I a 11 do mesmo mês e Gaspar II hoje). Devo começar por reconhecer que, após
tanto ter mudado na sequência das reações suscitadas pelas duas e desastradas primeiras,
esta foi muito bem cuidada na forma – nunca é tarde para recomeçar, pois…
Claro que Gaspar
é Gaspar, como tão eficazmente resulta da ilustração abaixo de Henrique Monteiro (http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
– o que não é, aliás, o menor dos seus muitos méritos. Não obstante, houve
progressos nas palavras e até já fomos capazes de ouvir o senhor falar de receitas
e despesas, público e privado, trabalho e capital, rendimento e património,
grandes empresas e PME’s e por aí adiante, num interessante e certamente difícil
assomo de realidade. Embora com a visível opção por diferentes níveis de
abstração, isto é, pelo recurso às calibrações e opacidades consideradas necessárias…
Tudo visto e
ponderado, sobra a mensagem central de um “aumento enorme de impostos”. E,
dissimulações à parte, algumas bem marcadas constantes: fé no modelo, rigidez na compreensão
da sociedade, impotência face a interesses, desconhecimento do aparelho de
Estado.
Ocorrem-me dois momentos,
um já bastante longínquo e outro ainda muito recente:
·
a celebérrima gaffe do “enfim, é fazer
as contas” que, desde os anos 90 do século passado, ficou gravada no curriculum
político de António Guterres;
·
as sensatas referências do Governador
do Banco de Portugal, há dias no Porto, na linha de que “o dever de uma
comunidade é saber o que é que considera aceitável em termos de esforço tributário”.
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