Apesar das diversas iniciativas a que
o desavindo casamento da maioria se tem submetido, com jornadas parlamentares
conjuntas e tudo, a sensação é de barafunda governativa. Compromissos que se
seguem e que depois rapidamente se rasgam (afinal, a data de libertação do jugo
da Troika já não é aquela que Vítor Gaspar ufanamente apresentou), mini-remodelação
de secretários de Estado (a estrutura política do PSD dentro do Ministério das
Finanças, para bom entendedor …), desconformidades entre Mota Soares e Vítor
Gaspar, e não ficaremos por aqui, todos sabemos.
E no meio desta
barafunda, sem talvez compreender a relevância do tema, Vítor Gaspar, algo
comprometido, lançou para a fogueira da discussão um tema sobre o qual irão a
meu ver formar-se as novas clivagens políticas na sociedade portuguesa. A
formulação de Gaspar não é a mais feliz: os portugueses não estariam dispostos
a pagar pelo muito que pedem ao Estado. A formulação é de facto infeliz. Não é
uma questão do que se pede. Antes de mais, alguns não pedem, capturam, e não
consta que sejam presentemente os mais atingidos pela contenção. É antes uma
questão de escolhas sobre o papel e não necessariamente sobre o peso do Estado,
ou pelo menos primeiro a questão do papel e só depois a do peso. E este debate é
um debate ao qual a esquerda não pode furtar-se, sobretudo no contexto de
crescimento económico moderado que se antevê para a sociedade portuguesa. Escolhas
públicas claras, para um também claro escrutínio democrático.
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