segunda-feira, 8 de outubro de 2012

MISÉRIA DE DEMOCRACIA


Dois jornalistas, colegas de trabalho no Diário de Notícias à época do arranque do projeto – David Dinis, atualmente no Sol, e Hugo Filipe Coelho –, acabam de lançar um livro assaz interessante que intitularam “Resgatados”.

No essencial, os autores privilegiam os factos ocorridos nos bastidores da ajuda financeira a Portugal – precisamente o subtítulo dado a “Resgatados” – e não emitem juízos de valor muito definitivos sobre os mesmos. E, mesmo que não tragam novidades evidentes, o profissionalismo por eles revelado na verificação e organização da informação fornecida – “andámos uns três meses a fazer entrevistas [a mais de 60 pessoas que, de algum modo, estiveram por dentro do processo], a cruzar toda a informação, a voltar às pessoas, a reconstituir diálogos e conversas com muito cuidado” e “depois disso foi preciso montar o 'puzzle' com a informação toda”, ou seja, tratou-se de quase um ano de “trabalho intenso” – constitui um contributo relevante para um maior esclarecimento de uma questão que tem sido sujeita a largas interrogações neste espaço e permite inquestionavelmente situá-la num quadro mais completo e estruturado de leitura. 

É agradável e de boa qualidade a escrita deste relato dos inúmeros acontecimentos que marcaram a vida política portuguesa após a segunda vitória eleitoral de José Sócrates em 2009 e até ao momento (6 de abril de 2011) em que o ex-primeiro-ministro anunciou o pedido de intervenção externa. Daniel Oliveira diz no Expresso que encontrou nele argumentos que lhe despertaram “dois sentimentos que desconhecia: o patriotismo e algum respeito pelo mal-amado Sócrates”. Pessoalmente, confirmei muito do que tenho vindo a dar por adquirido em relação ao período em causa e, sobretudo, à indigência e falta de escrúpulos de muitos dos nossos agentes políticos. Passos à cabeça…

Sem comentários:

Enviar um comentário