terça-feira, 2 de outubro de 2012

SOBREVOO POR UMA EUROPA DIVIDIDA



A situação espanhola e o modo como as autoridades europeias têm vindo a lidar com a hipótese de resgate da economia vizinha ilustram bem a divisão gritante da Europa.
O terreno está minado por uma onda de calculismo político. Da parte espanhola, o governo PP tem manejado a gestão do tempo político de modo a adiar o mais possível o eventual pedido de resgate, para depois das eleições bascas e galegas. Mas eis que a situação na Catalunha se descontrola, um novo ato eleitoral se perfila para 25 de Novembro. O que significa que a gestão do tempo político deixa de poder ser controlada nos termos antecipados pelo PP.
Mas Rajoy não esperaria que um novo jogo de sombras emergisse com origem nos países do Norte (Alemanha, Finlândia e Holanda). Tudo indica que na zona euro está instalado o síndroma das interpretações inacabadas ou divergentes de comunicados de cimeiras. Assim, por exemplo, quando se pensava que existisse um propósito político claro de separação definitiva entre a crise das dívidas soberanas e a crise bancária, aqueles três países apresentaram uma interpretação diferenciada da cimeira europeia de Junho de 2012 e colocam agora em dúvida o calendário que haveria de conduzir à criação da união bancária. A implicação aponta para Espanha, pois começa a surgir a dúvida se a capitalização dos bancos espanhóis é possível nos tempos previstos a partir da ação de supervisão do BCE.
Paul de Grauwe, uma das vozes críticas mais consistentes de todo o jogo de sombras em que a divisão da Europa se transformou, não tem pejo em afirmar que se trata de uma verdadeira vergonha o aparecimento de uma nova interpretação sobre as conclusões da cimeira de junho.
Se Rajoy ensaiou a sua própria gestão do tempo político, as eleições na Alemanha e as locais finlandesas começam a fazer sentir a sua influência. Todo este jogo de uma Europa dividida intensifica os riscos da indeterminação e pior do que tudo começa a disseminar entre os países sujeitos a resgate financeiro o sentimento de que não há saída. Neste contexto de falta de esperança ditado pelo calculismo político, a fadiga da austeridade pode ter efeitos explosivos.

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