Tenho de confessar que o debate em torno das moções de
censura do PCP e do Bloco não constituía para mim tema à partida muito
interessante. Não porque o resultado não estivesse anunciado. As moções tinham
um valor simbólico. Falta de interesse sobretudo porque o tipo de debate era
antecipável, tudo de facto era previsível, até a tensão contida no seio da
maioria. Por isso, num dia com alguma mobilidade, apanhei o debate
intermitentemente pela TSF e recolho por isso apenas algumas impressões que
destaco da modorra de tudo que é antecipável e que não nos surpreende.
Vítor Gaspar parece apostado no equilíbrio instável entre
o seráfico distante da realidade e o cinismo manipulador. Chamar ao povo
português o melhor povo do mundo nas condições atuais pode de facto ser
entendido como provocação. Os economistas de mainstream quando abandonam a frieza dos números e dos parâmetros são
um desastre. Vítor Gaspar deve ser uma dor de cabeça para os gestores políticos
desta maioria. Tudo indica que o ministro não pode capitalizar já com toda a
segurança a nível interno a sua imagem junto das autoridades comunitárias,
particularmente do BCE.
Entre os autores da moção de censura, a emergirem cada
vez mais como recetores de um voto de protesto que vai subir nos próximos
tempos, não consigo recordar uma ideia das intervenções do Bloco. Maior eficácia
do PCD nessa prestação, sobretudo da intervenção de Bernardino Soares, que respondeu
à letra da ideia da pantominice que Vítor Gaspar havia introduzido para desdenhar
da ideia da renegociação da dívida. Nestas coisas de voto e protesto, a retórica
do PCP é imbatível e uma vez mais se confirmou essa superioridade.
A intervenção de Francisco Assis interpreto-a como um
exercício promissor ao serviço de uma gestão do tempo político que não caia no
erro de remeter tudo calmamente para 2015. Pode ser uma simples manifestação de
uma retórica parlamentar mais trabalhada, mas também pode significar sinais de
preparação para a aceleração inevitável do tempo político.
Como dizia no post anterior, nos próximos tempos vai ser
cada vez mais nítida a separação entre as alternativas de protesto e as
alternativas de governação nas margens da transformação possível. Nestas últimas,
a questão das escolhas públicas sobre a dimensão, peso e papel do Estado, que
seria fundamental distinguir, assumirá cada vez maior relevo.
Veremos o que sai amanhã da Aula Magna no encontro das
Alternativas de Esquerda (porquê necessariamente em Lisboa?). Teremos mais
alternativas de protesto (nesta matéria o PCP deu o mote e não participa, lá
sabe porquê, imagino a razão) ou mais alternativas de governação?
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