quinta-feira, 11 de outubro de 2012

UMA QUESTÃO DE MULTIPLICADORES



O World Economic Outlook do FMI continua a produzir significativas réplicas em torno de algumas das conclusões e ideias que constam do relatório.
A última que tem dado origem a um debate aceso diz respeito à autocrítica assumida pela instituição numa das suas mais representativas publicações sobre a sua estimação dos efeitos da consolidação fiscal sobre a contração do produto, ou seja, sobre os efeitos recessivos da consolidação fiscal. Ou seja, autocrítica sobre os famigerados multiplicadores, números “mágicos” que estabelecem a relação entre o montante de consolidação fiscal (carga de austeridade) e a queda do produto após a concretização dos efeitos provocados.
E não estamos a falar de erro pequeno. Falamos de multiplicadores que são o dobro dos estimados inicialmente pela instituição FMI.
A autocrítica do FMI está publicada e não consta que a mesma tenha tido algum eco seja na intervenção prática da própria instituição, seja ainda nas instituições suas parceiras no acompanhamento e fiscalização dos processos de resgate financeiro.
Entramos por esta via no mais puro cinismo e no mais profundo desrespeito pelas consequências deste erro de avaliação de efeitos sobre as pessoas concretas. Como se um erro desta natureza, afinal Bradford de Long e Krugman nos Estados Unidos e Jonathan Portes e Martin Wolf no Reino Unido tinham razão, não tivesse profundas implicações sobre o bem-estar material e imaterial dos contribuintes concretos e sobre os que procuram em vão uma alternativa de emprego.
Escrevo enquanto deito um olho e um ouvido ao Quadratura do Círculo e não quero acreditar. O que faz uma semana de aceleração de tempo político. Até Lobo Xavier invoca a necessidade como única alternativa a mudança de discurso para com a Europa e com a Troika. Mas o problema é este. Mas que credibilidade têm os aspirantes a bons alunos acríticos e disciplinados para sequer aspirar a protagonizar uma mudança de discurso face à Europa e à Troika. Radicalmente nenhuma.

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