O World Economic Outlook do FMI
continua a produzir significativas réplicas em torno de algumas das conclusões
e ideias que constam do relatório.
A última que tem dado origem a um debate aceso diz
respeito à autocrítica assumida pela instituição numa das suas mais
representativas publicações sobre a sua estimação dos efeitos da consolidação
fiscal sobre a contração do produto, ou seja, sobre os efeitos recessivos da
consolidação fiscal. Ou seja, autocrítica sobre os famigerados multiplicadores,
números “mágicos” que estabelecem a relação entre o montante de consolidação
fiscal (carga de austeridade) e a queda do produto após a concretização dos
efeitos provocados.
E não estamos a falar de erro pequeno. Falamos de
multiplicadores que são o dobro dos estimados inicialmente pela instituição
FMI.
A autocrítica do FMI está publicada e não consta que a
mesma tenha tido algum eco seja na intervenção prática da própria instituição,
seja ainda nas instituições suas parceiras no acompanhamento e fiscalização dos
processos de resgate financeiro.
Entramos por esta via no mais puro cinismo e no mais
profundo desrespeito pelas consequências deste erro de avaliação de efeitos
sobre as pessoas concretas. Como se um erro desta natureza, afinal Bradford de
Long e Krugman nos Estados Unidos e Jonathan Portes e Martin Wolf no Reino Unido
tinham razão, não tivesse profundas implicações sobre o bem-estar material e
imaterial dos contribuintes concretos e sobre os que procuram em vão uma
alternativa de emprego.
Escrevo enquanto deito um olho e um ouvido ao Quadratura
do Círculo e não quero acreditar. O que faz uma semana de aceleração de tempo
político. Até Lobo Xavier invoca a necessidade como única alternativa a mudança
de discurso para com a Europa e com a Troika. Mas o problema é este. Mas que
credibilidade têm os aspirantes a bons alunos acríticos e disciplinados para
sequer aspirar a protagonizar uma mudança de discurso face à Europa e à Troika.
Radicalmente nenhuma.
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