sexta-feira, 19 de outubro de 2012

PARA ALÉM DA AUTOCRÍTICA DO FMI



O gráfico acima, repetidas vezes invocado por Bradford DeLong, um economista de referência frequente neste blogue, pretende ilustrar em que medida a dimensão cíclica e conjuntural de uma crise se pode transformar num fenómeno estrutural.
O quadro de referência é o da economia americana. O gráfico mostra que o comportamento dos indicadores “Emprego/população” (em estagnação) e “taxa de participação no mercado de trabalho” (em queda pronunciada) pode conduzir a prazo a uma transformação do desemprego provocado pela situação conjuntural (o chamado desemprego cíclico) em desemprego estrutural.
Não está aqui em causa se a economia americana é uma espécie de farol que pode explicar a extensão do fenómeno a outras economias.
O que me interessa destacar é que a autocrítica do FMI é simplesmente a ponta de um iceberg de maior magnitude. O que o FMI veio dizer é que subvalorizou a dimensão recessiva e de destruição de recursos dos programas de ajustamento e consolidação fiscal que tem patrocinado. Mas isso é apenas uma dimensão do problema. O outro problema, que sobreagrava o primeiro, resultará dos impactos estruturais de uma crise recessiva demasiado prolongada e o que eles poderão representar em termos de crescimento económico futuro fortemente abaixo do crescimento potencial da economia portuguesa. A retórica das reformas estruturais não passa disso. Os efeitos estruturais do prolongamento anómalo e punitivo da crise recessiva, esses sim, não são retórica, são efeitos antecipáveis da miopia reinante a nível nacional e ainda a nível europeu.

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