Uma fuga rápida a
Paris em trabalho, com tempo muito escasso para fruir a grande urbe,
paradoxalmente rica no pequeno local, na pequena cidade, perdidos no turbilhão
da oferta de serviços. Tempo apenas para uma curta passagem por Saint-Germain-des-Prés,
com um copo de fim de tarde no Les Deux
Magots, repleto por todos os lados de brasileiros emergentes, bastante
adinheirados, ostensivamente efusivos, com o ego profundamente em cima. Um
retorno truncado à memória de outros tempos. Sem tempo para o retorno às
livrarias, algumas delas já extintas, transformadas num bistrot qualquer ou numa outra função que nos incomoda a memória afetiva.
Apenas tempo para uma curta entrada na Julliard
que decididamente nunca foi uma das minhas favoritas.
Com o copo de fim de
tarde, com trânsito febril, tempo para uma leitura convulsiva dos jornais, mas
também oportunidade para corroborar impressões de uma tarde de trabalho. Tal
como antevi à distância, o impacto da governação Hollande é bem mais
significativo a nível europeu do que a nível interno, onde praticamente toda a
gente, até algumas correntes de pensamento no interior do PS, antecipam uma
situação recessiva em França e um profundo receio de que os estafermos dos
mercados comecem a fazer trepar as taxas de juro às quais a França poderá
financiar-se. O camarada Schroeder do SPD alemão ajudou à missa com uma espécie
de reprimenda aos seus colegas franceses alertando também para a necessidade
das famigeradas reformas estruturais (já não há pachorra …).
E no seio da governação
Hollande começam a estalar conflitos inter-ministeriais, alguns deles
anunciados, como por exemplo o choque entre a Economia e Finanças (Pierre Moscovici)
e a Recuperação Produtiva (a imaginação retórica dos franceses é notável) (Arnaud
Montebourg). Vá lá que o primeiro-Ministro Ayrault continua um ireepreensível
aliado de Hollande. O debate sobre o possível impacto na recessão anunciada dos
cortes orçamentais orientados para os 3% de défice continua ao rubro.
Aparentemente longe do
teor do post de hoje, a viagem a Paris
trouxe-me duas notícias sobre manifestações de rigidez nas relações de trabalho
na TAP que são um primor:
Primeira: o acordo de
trabalho de pessoal de cabine e de bordo contempla um horário de voo de 14
horas; acaso esse valor não seja atingido, a TAP paga aos seus trabalhadores
uma multa pelo facto de não ter atingido aquele limiar, para além da remuneração
fixada, claro está; acaso o limite seja ultrapassado, são pagas horas extraordinárias.
Um primor não acham?
Segunda: por vezes,
mudanças imprevistas de avião obrigam a que refeições de catering em princípio para serem servidas frias tenham de o ser
quentes; porém, essa mudança exige a aprovação prévia de sindicatos, pois estes
entendem que o aquecimento da refeição implica trabalho adicional; se tal
autorização não for dada e se a mudança de avião se concretizar a refeição não é
servida. Não lembraria ao diabo!
Estas situações são
certamente pontuais no plano global, embora no contexto da TAP possam não o ser.
A terem expressão, até eu, mesmo já sem pachorra, também diria que reformas estruturais
são necessárias …
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