sábado, 20 de outubro de 2012

SORRISOS PARA QUÊ E PORQUÊ?



Mais uma reunião do Conselho Europeu e uma vez mais é necessário recorrer a um tradutor capaz de descodificar o sentido e alcance futuro das decisões tomadas. A experiência mostra que a maior parte das vezes aquilo que se interpreta hoje não corresponde depois às interpretações efetivas das decisões do amanhã.
Por isso, a imagem que circulou em alguns jornais de grande circulação mundial como o Financial Times é no mínimo enigmática. Os sorrisos que a estruturam, sobretudo o sorriso de adolescente compenetrada da senhora Merkel com um Passos Coelho solícito, venerando e obrigado ao seu lado, não são emblemáticos de coisa nenhuma. De facto, não é fácil perceber a posteriori qual terá sido o grande resultado da reunião do Conselho.
Pode dizer-se que foi definida a calendarização para a criação de um único supervisor bancário, fixando o fim de 2012 para a conceção do quadro legal que estabelecerá o BCE como supervisor da ambicionada União Bancária.
Mas, ao contrário do que esperaria um hesitante Rajoy, a capitalização direta dos bancos espanhóis no montante de 40 mil milhões de euros, que tem alimentado o impasse calculado de que o governo espanhol tem estado cativo, foi afastada como sendo possível a partir do fundo europeu de resgate. Aparentemente, a decisão foi empurrada para uma posterior reunião dos Ministros das Finanças. Mas só aparentemente. A senhora Merkel encarregou-se de afirmar publicamente que dívidas passadas seriam da responsabilidade dos governos nacionais. A recapitalização direta pertencerá ao futuro e o fundo emergirá, lá para 2014 na melhor das hipóteses, descomprometido com recapitalizações do passado.
É difícil perceber se o calculismo eleitoral de Merkel está a pesar nesta dança dos pequenos passos incrementais versus aceleração do tempo das decisões para amortecer as situações espanhola e italiana. Até lá a situação espanhola ferverá em lume brando. E há contornos que não são claros. Ou a premência do resgate bancário em Espanha é real e em tal situação a dívida espanhola terá de aumentar para o financiar. Ou afinal a situação é controlável, a banca espanhola poderá esperar, mas nessas condições não se entende por que razão esse resgate foi fator decisivo de aceleração da perturbação que se abateu sobre Espanha.

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