Mais uma reunião do Conselho
Europeu e uma vez mais é necessário recorrer a um tradutor capaz de
descodificar o sentido e alcance futuro das decisões tomadas. A experiência
mostra que a maior parte das vezes aquilo que se interpreta hoje não
corresponde depois às interpretações efetivas das decisões do amanhã.
Por isso, a imagem que circulou em
alguns jornais de grande circulação mundial como o Financial Times é no mínimo
enigmática. Os sorrisos que a estruturam, sobretudo o sorriso de adolescente
compenetrada da senhora Merkel com um Passos Coelho solícito, venerando e
obrigado ao seu lado, não são emblemáticos de coisa nenhuma. De facto, não é fácil
perceber a posteriori qual terá sido
o grande resultado da reunião do Conselho.
Pode dizer-se que foi definida a
calendarização para a criação de um único supervisor bancário, fixando o fim de
2012 para a conceção do quadro legal que estabelecerá o BCE como supervisor da
ambicionada União Bancária.
Mas, ao contrário do que esperaria
um hesitante Rajoy, a capitalização direta dos bancos espanhóis no montante de
40 mil milhões de euros, que tem alimentado o impasse calculado de que o
governo espanhol tem estado cativo, foi afastada como sendo possível a partir
do fundo europeu de resgate. Aparentemente, a decisão foi empurrada para uma
posterior reunião dos Ministros das Finanças. Mas só aparentemente. A senhora
Merkel encarregou-se de afirmar publicamente que dívidas passadas seriam da
responsabilidade dos governos nacionais. A recapitalização direta pertencerá ao
futuro e o fundo emergirá, lá para 2014 na melhor das hipóteses, descomprometido
com recapitalizações do passado.
É difícil perceber se o calculismo
eleitoral de Merkel está a pesar nesta dança dos pequenos passos incrementais
versus aceleração do tempo das decisões para amortecer as situações espanhola e
italiana. Até lá a situação espanhola ferverá em lume brando. E há contornos
que não são claros. Ou a premência do resgate bancário em Espanha é real e em
tal situação a dívida espanhola terá de aumentar para o financiar. Ou afinal a
situação é controlável, a banca espanhola poderá esperar, mas nessas condições
não se entende por que razão esse resgate foi fator decisivo de aceleração da perturbação
que se abateu sobre Espanha.
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