terça-feira, 9 de outubro de 2012

NUNO GRANDE



É com profundo pesar que assinalo aqui o desaparecimento de um homem bom, inteligente, médico, cientista, cidadão de corpo inteiro, totalmente empenhado no bem e no serviço público, Nuno Grande. Este post é uma singela homenagem a essa personalidade e sobretudo a uma vida.
Partilhei com Nuno Grande, já há algum tempo, experiências de trabalho e reflexão que marcaram para sempre a minha propensão para a inter e multidisciplinaridade. Primeiro, nos trabalhos do Plano Diretor Municipal do Porto (coordenação do Professor Arquiteto Duarte Castel-Branco) na companhia também de Octávio Lixa Filgueiras e Nuno Guedes de Oliveira, já ambos desaparecidos. Depois, na reflexão da pequenina associação cívica Resultante, aí já com a presença inspiradora do Rui Oliveira. Assisti à sua tenaz defesa do projeto inovador das Biomédicas, então olhado de soslaio por toda a formação conservadora em medicina e até pelo poder político, sempre sob a inspiração da figura tutelar de Corino de Andrade. Assisti ao seu papel decisivo de interlocutor do governo norueguês no trabalho que haveria de dar origem à emergência da saúde comunitária no seu querido Trás-os-Montes, experiência que haveria de marcar indelevelmente os seus conceitos de saúde e políticas públicas associadas. Assisti ao entusiasmo com que aceitou ser mandatário da candidatura de Maria Lurdes Pintassilgo à Presidência da República. Assisti também como doente à sua espantosa arte de diagnóstico, baseado numa conversa inteligente, lógica, estruturada, sempre empática, arte essa que o transformou num dos mais atentos observadores da sociedade portuguesa. Contactei pioneiramente por seu intermédio com a sua perceção de que era possível aumentar significativamente os níveis de eficiência e eficácia das políticas de saúde e dos gastos públicos associados, preocupações bem lá no passado, muito antes destas coisas da consolidação fiscal se abaterem desumanamente sobre os orçamentos da saúde. Sempre com a perceção que era crucial alterar radicalmente o ensino da medicina.
A minha vida de andarilho impedir-me-á de estar no seu funeral. Fica esta singela homenagem para memória futura.

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