É com profundo pesar
que assinalo aqui o desaparecimento de um homem bom, inteligente, médico,
cientista, cidadão de corpo inteiro, totalmente empenhado no bem e no serviço público,
Nuno Grande. Este post é uma singela homenagem a essa personalidade e sobretudo
a uma vida.
Partilhei com Nuno
Grande, já há algum tempo, experiências de trabalho e reflexão que marcaram
para sempre a minha propensão para a inter e multidisciplinaridade. Primeiro,
nos trabalhos do Plano Diretor Municipal do Porto (coordenação do Professor
Arquiteto Duarte Castel-Branco) na companhia também de Octávio Lixa Filgueiras
e Nuno Guedes de Oliveira, já ambos desaparecidos. Depois, na reflexão da
pequenina associação cívica Resultante, aí já com a presença inspiradora do Rui
Oliveira. Assisti à sua tenaz defesa do projeto inovador das Biomédicas, então
olhado de soslaio por toda a formação conservadora em medicina e até pelo poder
político, sempre sob a inspiração da figura tutelar de Corino de Andrade. Assisti
ao seu papel decisivo de interlocutor do governo norueguês no trabalho que
haveria de dar origem à emergência da saúde comunitária no seu querido Trás-os-Montes,
experiência que haveria de marcar indelevelmente os seus conceitos de saúde e
políticas públicas associadas. Assisti ao entusiasmo com que aceitou ser mandatário
da candidatura de Maria Lurdes Pintassilgo à Presidência da República. Assisti
também como doente à sua espantosa arte de diagnóstico, baseado numa conversa
inteligente, lógica, estruturada, sempre empática, arte essa que o transformou
num dos mais atentos observadores da sociedade portuguesa. Contactei
pioneiramente por seu intermédio com a sua perceção de que era possível
aumentar significativamente os níveis de eficiência e eficácia das políticas de
saúde e dos gastos públicos associados, preocupações bem lá no passado, muito
antes destas coisas da consolidação fiscal se abaterem desumanamente sobre os
orçamentos da saúde. Sempre com a perceção que era crucial alterar radicalmente
o ensino da medicina.
A minha vida de
andarilho impedir-me-á de estar no seu funeral. Fica esta singela homenagem
para memória futura.
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