A leitura dos jornais de fim-de-semana confirma a
degradação das condições de governação da atual maioria no poder, recriando um
ambiente que cheira a fim de festa, salve-se quem puder, propício a facas nas
costas, num jogo estranho em que é difícil apreender quem espeta quem.
E nestes ambientes o Expresso regressa aos seus tempos de
eleição, indo além da concorrência, não se sabe por que artes mágicas, na
captação do insondável.
Já não falo no bem malhar do tiro ao boneco nos incautos
membros do Governo. Há para todos os gostos. Quem os lê e quem os leu, hoje tão
solícitos na crítica ao austeritarismo, outrora brandindo o dedo punitivo
contra o desregramento consumista dos portugueses. É gente que à mínima
mordidela do rabo muda rapidamente de posição e a senhora Lagarde, ou melhor os
economistas da senhora Lagarde responsáveis pelo World
Economic Outlook 2012, foram a onda de choque que toda essa gente
precisava para poder desabafar e salvar a face.
Mas o que mais me impressionou na leitura do Expresso foi
a narrativa jornalística (verídica? bufada por elementos de uma maioria em
transe? quem se lembra já da dita estrutura de governação criada em momento de
aflição da TSU?) sobre as maratonas do conselho de ministros para aprovação do
Orçamento de Estado para 2013. A história da fuga de informação dos alegados
escalões de IRS (o que ontem era certo, muito provavelmente hoje não o será,
tamanho é o delírio de precipitação de um conselho que perdeu a racionalidade) é
uma perfeita delícia ilustrativa da desagregação do poder. E o que me atirou às
cordas de gozo perfeito, foi a narrativa da emergência de Paulo Macedo no
conselho de ministros como uma das únicas cabeças que terá mostrado a um
aturdido Vítor Gaspar (Franckfurt espera-me de novo o mais depressa possível,
tirem-me deste angustiante filme) que o assalto fiscal seria tudo menos uma
solução inteligente e eficaz mesmo do ponto de vista fiscal em sentido estrito.
Oh! Ironia das ironias, que inesperado centro de racionalidade e bom senso,
explorando o seu conhecimento transversal da máquina fiscal e do Estado. Quem
me dera ser mosca e estar no centro das manobras de pura guerrilha governativa
que vão acontecer até ao conselho de ministros de segunda-feira. Daria gozo se
o nosso rendimento disponível e bem-estar em 2013 não estivesse dependente
destes avanços e recuos.
A calma de todo o horizonte de Santa Tecla, com o Minho e
Caminha a espreitarem por entre salgueiros e choupos cada vez mais frondosos,
contrasta felizmente com o ruído de toda esta tropa fandanga.
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