sábado, 6 de outubro de 2012

AINDA O CONGRESSO DEMOCRÁTICO DAS ALTERNATIVAS



Analisar o alcance do que sai do CDA pelos ecos que a iniciativa teve na imprensa escrita e on line pode ser uma via fortemente enviesada para o fazer. Aquilo que a página do congresso designa de memorável não alinha de facto com a cobertura mediática do acontecimento. É um desvio conhecido, pois os nossos jornalistas de serviço trabalham em função de um critério de aferição do que é relevante que não tem nada a ver com a importância intrínseca das coisas. Mas convém recordar que é por essa via truncada e enviesada que as ideias são comunicadas à população portuguesa. E, mesmo assim, o Público de hoje dedica-lhe duas páginas em espaços de grande nobreza no jornal, o que nos tempos que correm não é coisa pouca.
Mas, em meu entender, o que sai efetivamente dos ecos do congresso é fundamentalmente uma frente de alinhamento com uma alternativa de protesto, balizada por duas ideias essenciais, a denúncia do memorando da Troika e na expressão de Carvalho da Silva o pedido de um “ato coletivo de afrontamento”. É pouco e pouco convincente, sobretudo porque em matéria de retórica do protesto a do PCP e do Bloco é mais eficaz. Por outro lado, a ideia que terá perspassado pelas cabeças de organizadores como José Reis ou João Rodrigues é a de forjar um movimento de ideias que cavalgue a amálgama de protesto que se materializou nas manifestações de 15 de Setembro. Para isso, o Congresso não terá sido necessariamente memorável.
Na reportagem do Público, não há estranhamente uma palavra sobre a intervenção que terá sido mais incómoda, a de João Ferreira do Amaral. Não há denúncia possível do memorando a não ser num quadro de saída preparada e negociada do euro. Esta parece-me ser a questão central a ser discutida, sem dramas e esgrimindo bem as alternativas. Por outro lado, nem uma palavra sobre a intervenção de Jorge Bateira, que terá ido, admito-o, na mesma direção. Do projeto de declaração e dos ecos a que me refiro não há ainda uma reflexão sequer sobre o que é que o movimento pensa da empresa como célula fundamental de organização da atividade económica.
A continuidade do movimento exige focagem destas questões.

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