domingo, 7 de outubro de 2012

1001º



Reconheço que não sou muito propenso a efemérides. Mas o Freire de Sousa assinalou e bem o 1000º post deste blogue que corresponde também sensivelmente a um ano de produção (início a 6 de outubro de 2011). A cavalgada do tempo é arrasadora e sobretudo no meu escalão etário, ao contrário do que se pensa, essa cavalgada é ainda mais impressionante.
Entre o texto do primeiro post e o momento atual existe um desvio considerável de expectativas, algo que quem como eu trabalha, desde há longa data, em planeamento está habituado a gerir como algo de intrínseco à indeterminação do futuro que teimamos em abordar com maior ou menor determinação. A indeterminação do futuro é algo que divide irreversivelmente os economistas e essa questão tem também estado na origem de algum do pensamento que vai passando pelos nossos esforçados contributos. O reconhecimento dessa natureza intrínseca da indeterminação do futuro está fortemente associada com os conceitos de tempo que a vulgata da economia, tão responsável pelos males que apoquentam hoje as economias de mercado, teima em não compreender. O tempo da espessura, o tempo da história, o tempo dos percursos que trilham uma trajetória que marca para sempre os comportamentos e as estratégias dos agentes, económicos incluídos, em suma o tempo irreversível.
Tem razão o Freire de Sousa em considerar a dificuldade manifesta de nos fazermos ouvir na selva mediática e na insondável e complexa blogosfera. Pela parte que me toca e por isso é uma interpretação que me vincula apenas, isso deve-se fundamentalmente ao facto de estar longe de ser um “conector”. Este conceito foi inovadoramente introduzido por Malcolm Gladwell no seu primeiro livro editado em Portugal, Tipping Point. Confesso que não me recordo do título da versão portuguesa. Nesse livro, aparentemente considerado um livro de aeroporto, mas que é bastante mais do que isso, Gladwell analisa como o marketing research tem trabalhado o papel na disseminação de ideias de novos produtos que os conectors tendem a assumir. O conector é alguém que tem o estatuto de nó de comunicação, alguém que através de uma rede poderosa de contactos pessoais recebe e dissemina comunicação, sendo por isso fundamental o seu papel como agente de disseminação de novas ideias e comportamentos. Ora, basta analisar a minha lista de endereços de telemóvel e de correio eletrónico para compreender que estou a anos-luz de ser um conector.
Para além disso, todos nós estamos codificados (catalogados, diria melhor) para os homens da imprensa em função do nosso potencial mediático. Ainda ontem, estou certo que a cobertura jornalística do que se terá passado na Aula Magna em Lisboa terá sido realizada em função desses códigos de classificação. Estou certo, por exemplo, que terá havido intervenções bem mais interessantes do que por exemplo a da incontida Ana Gomes. Mas como o seu código de potencial mediático é nulo, as suas intervenções são naturalmente substituídas pela da desconjuntada Ana Gomes. São regras do jogo. Já me habituei a elas há muito tempo.
O que fazer? Simplesmente continuar enquanto der gozo. Usar o facebook para disseminar o que se vai produzindo no blogue tem permitido minorar alguma desta invisibilidade. Mas o facebook de um não conector não tem comparação possível com o de um conector. Somos sempre reconduzidos à essência das coisas.

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