Reconheço que não sou muito propenso a efemérides. Mas o
Freire de Sousa assinalou e bem o 1000º post
deste blogue que corresponde também sensivelmente a um ano de produção (início
a 6 de outubro de 2011). A cavalgada do tempo é arrasadora e sobretudo no meu
escalão etário, ao contrário do que se pensa, essa cavalgada é ainda mais
impressionante.
Entre o texto do primeiro post e o momento atual existe um desvio considerável de
expectativas, algo que quem como eu trabalha, desde há longa data, em planeamento
está habituado a gerir como algo de intrínseco à indeterminação do futuro que
teimamos em abordar com maior ou menor determinação. A indeterminação do futuro
é algo que divide irreversivelmente os economistas e essa questão tem também
estado na origem de algum do pensamento que vai passando pelos nossos
esforçados contributos. O reconhecimento dessa natureza intrínseca da
indeterminação do futuro está fortemente associada com os conceitos de tempo
que a vulgata da economia, tão responsável pelos males que apoquentam hoje as
economias de mercado, teima em não compreender. O tempo da espessura, o tempo
da história, o tempo dos percursos que trilham uma trajetória que marca para
sempre os comportamentos e as estratégias dos agentes, económicos incluídos, em
suma o tempo irreversível.
Tem razão o Freire de Sousa em considerar a dificuldade
manifesta de nos fazermos ouvir na selva mediática e na insondável e complexa
blogosfera. Pela parte que me toca e por isso é uma interpretação que me
vincula apenas, isso deve-se fundamentalmente ao facto de estar longe de ser um
“conector”.
Este conceito foi inovadoramente introduzido por Malcolm Gladwell no seu
primeiro livro editado em Portugal, Tipping Point. Confesso que não me
recordo do título da versão portuguesa. Nesse livro, aparentemente considerado
um livro de aeroporto, mas que é bastante mais do que isso, Gladwell analisa
como o marketing
research tem trabalhado o papel na disseminação de ideias de
novos produtos que os conectors tendem a assumir. O conector
é alguém que tem o estatuto de nó de comunicação, alguém que através de uma
rede poderosa de contactos pessoais recebe e dissemina comunicação, sendo por
isso fundamental o seu papel como agente de disseminação de novas ideias e
comportamentos. Ora, basta analisar a minha lista de endereços de telemóvel e
de correio eletrónico para compreender que estou a anos-luz de ser um conector.
Para além disso, todos nós estamos codificados (catalogados,
diria melhor) para os homens da imprensa em função do nosso potencial mediático.
Ainda ontem, estou certo que a cobertura jornalística do que se terá passado na
Aula Magna em Lisboa terá sido realizada em função desses códigos de
classificação. Estou certo, por exemplo, que terá havido intervenções bem mais
interessantes do que por exemplo a da incontida Ana Gomes. Mas como o seu código
de potencial mediático é nulo, as suas intervenções são naturalmente substituídas
pela da desconjuntada Ana Gomes. São regras do jogo. Já me habituei a elas há
muito tempo.
O que fazer? Simplesmente continuar enquanto der gozo. Usar
o facebook para disseminar o que se vai produzindo no blogue tem permitido
minorar alguma desta invisibilidade. Mas o facebook de um não conector não tem
comparação possível com o de um conector. Somos sempre reconduzidos à essência
das coisas.
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