segunda-feira, 22 de outubro de 2012

UMA CRÓNICA ANUNCIADA



As eleições regionais em Espanha, na Galiza e no País Basco podem ser consideradas como o resultado de uma crónica anunciada.
Na Galiza, o PP pela mão de Feijóo reforça a sua maioria absoluta, aumentando o número de deputados de 38 para 41. O PSOE galego afunda-se, perdendo 7 deputados, bem como o Bloco Nacionalista Galego que perde 5 deputados. Reaparece a personalidade Xosé Manuel Beiras com a sua aliança nacionalista com a Esquerda Unida (9 deputados) superiorizando-se à sua antiga força política BNG. Na Galiza não funcionou pois a tentativa de colar o PP galego às desventuras de Rajoy. O bloco nacionalista fraturou-se, com consequências imprevisíveis sobre o seu futuro, mesmo que possamos reconhecer a aguerrida presença de Beiras, que promete uma presença à sua velha maneira no Parlamento galego. Se há que reconhecer a força profunda do PP na Galiza, apesar da sua dimensão progressivamente urbana, e a habilidade política de Feijóo em não deixar-se colar excessivamente à questão nacional, o que sai de verdadeiramente relevante das eleições galegas é a vacuidade do PSOE, a sua não recuperação de uma legislatura perdida no tempo da presidência de Emílio Pérez Touriño. Mas se o PSOE galego se confronta ele próprio com as sombras da sua mais recente passagem pelo poder na Galiza, os resultados anunciam também a vacuidade do projeto PSOE a nível nacional. Imagino que as futuras eleições na Catalunha vão afundar ainda mais esta herança, aliás sugeridas já há longo tempo pela dificuldade evidenciada pelas sondagens, nas quais o PSOE não se aproxima de um PP em navegação encapelada.
No País Basco, num cenário sem ETA, o PNV (Partido Nacionalista Basco) ganha embora perdendo 3 deputados, colhendo porventura voto útil de eleitorado PSOE e PP, enquanto que a independentista EH Bildu tem uma ascensão algo meteórica (de 5 para 21 deputados). O PSOE e socialistas bascos afundam-se, com uma perda de 9 deputados e o PP tem uma queda mais ligeira de 3 deputados. Não imagino como a não maioria absoluta vai ser gerida, se através de um acordo ou coligação de governo regionalisto-independentista ou se pelo contrário com acordos parlamentares com o PSOE. De qualquer modo, PNV + Bildu >  PSOE + PP.
Onde está então a crónica anunciada?
Perante a vacuidade do PSOE e das suas emanações regionais não comprometidas com visões próximas do independentismo ou nacionalismo regional, a ameaça política que paira sobre o PP não decorre neste momento de uma alternativa de governação a partir de Madrid. A ameaça vem do facto do espaço de capitalização das agruras governativas do PP estar a ser ocupado pelas forças regionalistas mais próximas, embora não totalmente coincidentes no seu todo, com o independentismo. Citando Laura Mitegui (Bildu): “o caminho para pensar o País Basco como um país não tem recuo possível”. O próximo ato das eleições na Catalunha confirmará provavelmente esta crónica anunciada, para a qual a realidade intrínseca do PP não estará preparada.

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