(http://letraseconteudos.blogspot.pt/2013/06/libertar-portugal-da-austeridade-sob.html)
Daniel Oliveira (DO) tem hoje um bom texto no Expresso
centrado na reunião magna da Aula Magna. Mário Soares volta à carga,
revigorado, federando de novo uma frente de personalidades, constituída em
fator de pressão sobre o governo e sobre a presidência da República. O artigo
de DO é muito sugestivo porque distingue bem o que é uma frente convergente de
esquerda em termos de personalidades que, apesar das suas filiações político-partidárias,
pensa pela sua própria cabeça e uma possível frente de esquerda em termos de ação
política para uma governação de convergência. E, em meu entender, estes dois
campos de convergência possível (à esquerda) tendem cada vez mais a
distanciar-se, a primeira com uma forte probabilidade de aproximação sistemática,
a segunda transformando-se numa miragem e numa impossibilidade.
Explico-me.
Se residisse em Lisboa, bastaria saber que António
Nóvoa seria um interveniente ativo na sessão para estar convictamente presente
e não apenas por isso. O contexto atual, tal é a enormidade da teimosia da
governação nacional e europeia, proporciona uma ampla aproximação de gentes que
pensam pela sua própria cabeça e que sabem que, historicamente, quando o período
europeu e nacional forem vistos com a distância necessária, ele será visto como
um dos mais surpreendentes erros de política económica. O detonador de alerta
que a situação espontaneamente provoca é logicamente frentista e há por isso
espaço para um vasto ajuntamento de “compagnons
de route”. É isso que explica o poder federador de Soares e sobretudo o
entusiasmo com que o discurso de António Nóvoa foi recebido.
Porém, imagino-me nessa sessão e admitamos que a
mesma não era apenas um detonador de alerta de consciências e que na “ordem de
trabalhos” constava a discussão de “o que fazer” do ponto de vista da ação política.
Provavelmente, não teria pachorra para ouvir o anunciado. DO é certamente mais
otimista do que eu quando afirma que: “O
parto pode ser difícil, mas os políticos da oposição acabarão por ser obrigados
a seguir a vontade dos portugueses. Sabem que se não o fizerem, um qualquer
Beppe Grillo tomará o seu lugar. Se PS, PCP e BE o entenderem a tempo talvez
façam parte da solução. Sou otimista: talvez o tenham começado a perceber na
quinta-feira, quando viram muitos eleitores seus de pé a saudar com tanto
entusiasmo o apelo do reitor que exigia a renovação da política e dos partidos”.
A equação a que DO se refere não é
necessariamente resolúvel. Se lá estivesse aplaudiria certamente com entusiasmo
a frescura clarividente de Nóvoa. Mas muito provavelmente como eleitor de
esquerda a minha influência para uma solução de governação convergente com
aquela frente esgotar-se-ia por ali. Espero sinceramente que muitos dos que
aplaudiram entusiasticamente Nóvoa não estejam a pensar na sequência déjà vue de elegerem um Presidente e em
torno dele se criar uma dinâmica de governação alternativa. Para essa linha já
não dou mais, enquanto as funções presidenciais continuarem no limbo existente.
Acredito mais no robustecimento da opinião pública, na criação de um
contraponto crítico à ação dos partidos da governação, não enjeitando aqui que
mais tarde ou mais cedo PCP e Bloco não poderão permanecer indefinidamente no
limbo da capitalização do voto de protesto.
Ontem, à noite, em Esposende moderei um debate
com 3 deputados europeus (Marisa Matias, Bloco, uma força da natureza; José Manuel
Fernandes, PSD, um intuitivo hiperativo; a jovem Inês Zuber, PCP, a renovação
da força), centrado nas perspetivas do próximo período de programação de Fundos
Estruturais e outros fundos. Momento que foi uma espécie de ligação direta entre
o Cávado e Bruxelas. Mas mais do que isso foi a demonstração de que é possível
superar as limitações dos quadros partidários quando os intervenientes se
libertam dessas vestes, o que não é a mesma coisa que abdicar das suas ideias.
Uma pequena nota final: a intervenção final do
Dr. João Lobo, presidente da Assembleia Intermunicipal da CIM do Cávado e
ilustre causídico daquelas paragens, é um raro momento de uma política que já não
se faz, um hino à beleza e à força da palavra.
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