O que Carlos Costa (CC) afirmou na Assembleia da República, e tanta celeuma levantou, foi no essencial algo de dificilmente contestável: “O falhar as metas em termos de défices orçamentais é inerente à forma como foram concebidas as metas. O ministro das Finanças só controla metade do objetivo. Controla o objetivo pelo lado das despesas. Porque, pelo lado das receitas e pelo lado do produto, ele está muito dependente do que acontece internacionalmente.”
A coisa parece relativamente óbvia, como ainda mais o é a preocupação com um segundo resgate que seria “demasiado penoso” para Portugal. Então, qual é o problema? A meu ver, o problema é de um outro foro, que o próprio governador aflorou quando referiu: “Escusam de tentar colar-me a qualquer posição político-partidária, porque não o conseguem”. Só que, nessa dimensão, entram explícitos e implícitos de melindroso recorte: por um lado, a fineza intelectual com que CC gosta de manifestar a sua inquestionável independência; por outro lado, a sua inescapável presença mediática, com os inerentes silêncios mantidos e declarações produzidas em conjunturas complexas e nem sempre suscetíveis de serem integralmente conhecidas em termos públicos.
Isto para não entrar em incursões ainda mais subjetivas, como as que passariam por comparar a relação pessoal de CC com Fernando Teixeira dos Santos (seu colega de curso, ministro que o nomeou e responsável que acompanhou nos difíceis tempos que precederam o pedido de assistência financeira) e com Vítor Gaspar (identificação empática com a implacável racionalidade do professor de Economia, ademais oriundo da Universidade Nova de Lisboa e recheado de publicações académicas internacionais, e cumplicidades adicionalmente adquiridas em cruzamentos continuados nos corredores institucionais, designadamente europeus).
Tudo visto e ponderado, o incidente foi atabalhoadamente desfocado pelas intervenções extremadas (entre o pueril e o dogmático) de alguns oposicionistas e acabou por não passar de uma “tempestade num copo de água”. Sobretudo na medida em que, seguramente, ninguém conseguirá colar CC a uma qualquer posição político-partidária nem desviá-lo do cumprimento estrito e eficaz da missão que se definiu. Não obstante, talvez CC deva ponderar melhor a judiciosidade e a oportunidade político-partidária dos seus ditos e não ditos…
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