Com a habitual chancela da Assírio & Alvim, agora do grupo Porto Editora, a edição única de “Servidões” chegou às livrarias quase secretamente e sem qualquer sessão de lançamento, mas logo esgotou.
No “Eixo do Mal”, Clara Ferreira Alves alertou-nos deste modo para a obra que queria recomendar: “É absolutamente extraordinário, o livro, é o mais autobiográfico registo do Helder que encontramos em muito tempo e tem um texto proso-poético a abri-lo que é, certamente, um dos textos de antologia da literatura portuguesa e da literatura mundial.”
O dito texto termina assim: “Compreendi então: cumprira-se aquilo que eu sempre desejara – uma vida subtil, unida e invisível que o fogo celular das imagens devorava. Era uma vida que absorvera o mundo e o abandonara depois, abandonara a sua realidade fragmentária. Era compacta e limpa. Gramatical.”
Aos 82 anos, o grande Herberto Helder continua a criar energicamente. Entre a compreensão da vida e a proximidade da morte, sem cedências. Com a poesia como instrumento, porque “nada pode ser mais complexo que um poema / organismo superlativo absoluto vivo / apenas com palavras / apenas com palavras despropositadas / movimentos milagrosos de míseras vogais e consoantes / nada mais que isso / música / e o silêncio por ela fora”.
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