Toda a gente percebeu que o mea culpa que ressalta do relatório de cerca de 50 páginas do FMI
sobre os erros reconhecidos sobre o resgate grego deixou a Comissão Europeia
furibunda. A claríssima subavaliação dos estragos provocados em termos de
crescimento económico e a longuíssima hesitação sobre os termos da reestruturação
da dívida grega são apontados no relatório como os principais fatores
configuradores do erro agora assumido.
Sem aderir ao facilitismo das comparações com a
situação portuguesa, vale a pena entretanto seguir com atenção as reações que o
mea culpa tem provocado na imprensa
económica especializada de tiragem mundial.
O artigo semanal de Wolfang Mϋnchau publicado hoje no Financial Times está necessariamente nesse scan noticioso.
Mϋnchau relaciona o relatório do mea culpa com o reconhecimento que o FMI faz da atual insustentabilidade da dívida grega, considerando já ultrapassados
os valores de alívio da dívida que foram tomados em conta para definir a
reestruturação de 2012. A apreciação é dura: “A meta de 124% do PIB é simultaneamente
arbitrária e ilusória. É arbitrária porque não qualquer razão económica para
esse número. É ilusória porque os investidores já não olham a dívida grega como
soberana, mas antes como sub-soberana. Entidades sub-soberanas como os Estados
americanos ou os Länder alemães não podem assumir os mesmos rácios de dívida no
PIB como os Estados soberanos porque não têm capacidade de emissão monetária. Um
número em torno dos 60 a 80% seria mais realista.”
Mϋnchau conclui que a solvência do Estado grego
será incompatível com metas mais realistas para a sustentabilidade da dívida e
uma trajetória menos agressiva das condições de crescimento económico. Daí pronunciar-se
sobre as saídas mais plausíveis. Com a deserção dos investidores privados, entende
que uma nova reestruturação com anulação de dívida envolverá apenas
investidores públicos, não acreditando que Alemanha e seus aliados estejam a
isso dispostos, mesmo depois de setembro deste ano com um resultado eleitoral
positivo para a liderança de Merkel. Restará ou a falada dilatação de maturidades
e descida de taxas de juro ou a criação de condições de excedente orçamental
primário e de mercado de trabalho para uma saída do euro com desvalorização
nominal e não pagamento de dívida. Surpreendentemente, Mϋnchau refere que estas
últimas condições não estarão muito longe de poderem observar-se.
O artigo termina com novas interrogações agora
sobre o próprio FMI. Ou a instituição não fala a uma só voz e contradições
internas estarão neste momento a libertar-se do politicamente correto ou então
só resta à instituição impor mudanças de política ou simplesmente abandonar a
Troika.
Para memória e monitorização futuras.
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