domingo, 9 de junho de 2013

ECOS DO MEA CULPA DO FMI



Toda a gente percebeu que o mea culpa que ressalta do relatório de cerca de 50 páginas do FMI sobre os erros reconhecidos sobre o resgate grego deixou a Comissão Europeia furibunda. A claríssima subavaliação dos estragos provocados em termos de crescimento económico e a longuíssima hesitação sobre os termos da reestruturação da dívida grega são apontados no relatório como os principais fatores configuradores do erro agora assumido.
Sem aderir ao facilitismo das comparações com a situação portuguesa, vale a pena entretanto seguir com atenção as reações que o mea culpa tem provocado na imprensa económica especializada de tiragem mundial.
Mϋnchau relaciona o relatório do mea culpa com o reconhecimento que o FMI faz da atual insustentabilidade da dívida grega, considerando já ultrapassados os valores de alívio da dívida que foram tomados em conta para definir a reestruturação de 2012. A apreciação é dura: “A meta de 124% do PIB é simultaneamente arbitrária e ilusória. É arbitrária porque não qualquer razão económica para esse número. É ilusória porque os investidores já não olham a dívida grega como soberana, mas antes como sub-soberana. Entidades sub-soberanas como os Estados americanos ou os Länder alemães não podem assumir os mesmos rácios de dívida no PIB como os Estados soberanos porque não têm capacidade de emissão monetária. Um número em torno dos 60 a 80% seria mais realista.”
Mϋnchau conclui que a solvência do Estado grego será incompatível com metas mais realistas para a sustentabilidade da dívida e uma trajetória menos agressiva das condições de crescimento económico. Daí pronunciar-se sobre as saídas mais plausíveis. Com a deserção dos investidores privados, entende que uma nova reestruturação com anulação de dívida envolverá apenas investidores públicos, não acreditando que Alemanha e seus aliados estejam a isso dispostos, mesmo depois de setembro deste ano com um resultado eleitoral positivo para a liderança de Merkel. Restará ou a falada dilatação de maturidades e descida de taxas de juro ou a criação de condições de excedente orçamental primário e de mercado de trabalho para uma saída do euro com desvalorização nominal e não pagamento de dívida. Surpreendentemente, Mϋnchau refere que estas últimas condições não estarão muito longe de poderem observar-se.
O artigo termina com novas interrogações agora sobre o próprio FMI. Ou a instituição não fala a uma só voz e contradições internas estarão neste momento a libertar-se do politicamente correto ou então só resta à instituição impor mudanças de política ou simplesmente abandonar a Troika.
Para memória e monitorização futuras.

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