Na intervenção de amanhã do encontro dos Verdes Europeus no Mercado da Ribeira em Lisboa (que pode ser seguido ao vivo) tenho pelos vistos sete minutos antes
da ronda do debate e das perguntas de Anabela Mota Ribeiro.
Vou elaborar sobre sete ideias para sete minutos.
Aqui fica não toda a reflexão mas apenas o simples enunciado dessas sete
ideias.
1. Quando a história económica olhar com a distância que só
o tempo possibilita esta dificuldade do mundo desenvolvido em recuperar da
Grande Recessão de 2007-2008, o prolongamento desta situação e os gravosos
custos sociais que ela determina serão seguramente classificados como um dos
erros mais gritantes de política económica de todos os tempos; erro
desnecessário porque resulta não da inexistência de soluções teórica e
empiricamente fundamentadas, mas antes da incompreensão da situação por parte
do mainstream económico, incapaz de perceber o fenómeno da armadilha da
liquidez e as lições da história económica passada e recente.
2. Avisos sérios não foram devidamente interpretados. As
crises cambiais asiáticas dos fins dos anos 90 e a longa agonia da economia
japonesa durante toda essa década e tempos seguintes mostraram que a
desregulação financeira mundial pode criar problemas de instabilidade
macroglobal ingeríveis com plena liberdade de circulação de capitais, câmbios
fixos e regulação frouxa, comprometida ou fraudulenta. Mostraram ainda que as
crises com armadilha de liquidez não eram coisa do passado ou algo dominado
facilmente pela política monetária. Mostraram ainda que as ideias de Keynes não
estavam mortas, que o ciclo económico não tinha acabado e que a economia da
depressão não pode deixar de continuar a ser estudada e lecionada como alguns
fizeram crer.
3. A situação global em que estamos mergulhados não resulta
da penalização por parte dos mercados de défices públicos excessivos ou do
nível de endividamento global. Vivemos numa crise global de procura
essencialmente determinada pela reação lógica e racional de famílias e empresas
que corrigem a perda de valor dos seus ativos na sequência da crise financeira
de 2007-2008.
4. Toda esta irracionalidade global é majorada na zona euro
e, dentro dela, nas economias do sul, onde se projetam todas estas
irracionalidades (melhor se encavalitam), agravando por isso e
irremediavelmente as suas chances de saída. Para agravar esta sobreposição de
causas em algumas, senão em todas, existem causas estruturais internas de crise
que potenciam todo o contexto desfavorável gerado pela irracionalidade externa.
5. Como sair, nestas condições, da depressão prolongada em
que as causas da crise e os erros de abordagem à sua superação nos colocaram?
A resposta é abrangente mas inequívoca:
- Romper com todas as leituras e abordagens da crise que nos conduziram a onde estamos e a uma aparentemente desnecessária tão tardia e anémica recuperação;
- Compreender que estamos numa crise de procura e não de dívida e que não é possível ter famílias, empresas e Estado a reduzir despesa e em simultâneo;
- Compreender que o nível de dívida de alguns países inibe ou condiciona a expansão fiscal e que por isso só uma coordenação macroeconómica global de políticas pode contornar/minimizar esse constrangimento;
- Compreender que, nestas condições, a política monetária não é a solução do problema, injetando liquidez no problema, uma vez que o quantitative easing tende a não projetar-se na economia real, porque base monetária e crédito não vão de par no seu crescimento;
- Compreender que a independência dos bancos centrais foi concebida e consagrada estatutariamente para um contexto macroeconómico totalmente distinto, pelo menos com necessidade de alteração dos seus objetivos de atuação;
- Compreender que podemos estar perante uma crise de ciclo longo e que, nessa perspetiva, têm de ser fortemente estimulados todos os drivers que potenciem um novo paradigma de crescimento de longo prazo;
- Compreender que ou a arquitetura do edifício do Euro é alterada para aguentar situações de stress ou tenderá a implodir não sendo totalmente líquido que existam retiradas estratégicas com minimização de danos colaterais;
- Admitir que (a Reinhart e Rogoff o que é de Reinhart e Rogoff) que crises financeiras e deste porte dificilmente escaparão a anulações (perdões consentidos ou impostos) de dívida;
- Agir consequentemente.
6. A crise portuguesa constitui uma solução problema em que
todos estes fatores se encavalitam, produzindo efeitos sociais erradamente
classificados de colaterais ou imprevisíveis.
7. Por último, e face a esta constatação, uma nova relação,
mais robusta e fundamentada entre indignação/participação, conhecimento e
soluções políticas de governação tem de ser procurada. Aos 64 anos é
estimulante estar pela primeira vez com gente que faz parte da nossa vivência
do tempo longo, dos livros, do debate, da política. Mas é-o sobretudo pela
perceção de que o direito à indignação participativa, o conhecimento e a
geração de soluções políticas de governação para a crise não têm
necessariamente de vaguear como baratas tontas e errantes à procura de coerências
entre si.
Obrigado ao
Rui Tavares por esta possibilidade
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