sexta-feira, 21 de junho de 2013

SETE IDEIAS (E ALGUNS DERIVADOS) PARA SETE MINUTOS




Na intervenção de amanhã do encontro dos Verdes Europeus no Mercado da Ribeira em Lisboa (que pode ser seguido ao vivo) tenho pelos vistos sete minutos antes da ronda do debate e das perguntas de Anabela Mota Ribeiro.
Vou elaborar sobre sete ideias para sete minutos. Aqui fica não toda a reflexão mas apenas o simples enunciado dessas sete ideias.
1.      Quando a história económica olhar com a distância que só o tempo possibilita esta dificuldade do mundo desenvolvido em recuperar da Grande Recessão de 2007-2008, o prolongamento desta situação e os gravosos custos sociais que ela determina serão seguramente classificados como um dos erros mais gritantes de política económica de todos os tempos; erro desnecessário porque resulta não da inexistência de soluções teórica e empiricamente fundamentadas, mas antes da incompreensão da situação por parte do mainstream económico, incapaz de perceber o fenómeno da armadilha da liquidez e as lições da história económica passada e recente.
2.    Avisos sérios não foram devidamente interpretados. As crises cambiais asiáticas dos fins dos anos 90 e a longa agonia da economia japonesa durante toda essa década e tempos seguintes mostraram que a desregulação financeira mundial pode criar problemas de instabilidade macroglobal ingeríveis com plena liberdade de circulação de capitais, câmbios fixos e regulação frouxa, comprometida ou fraudulenta. Mostraram ainda que as crises com armadilha de liquidez não eram coisa do passado ou algo dominado facilmente pela política monetária. Mostraram ainda que as ideias de Keynes não estavam mortas, que o ciclo económico não tinha acabado e que a economia da depressão não pode deixar de continuar a ser estudada e lecionada como alguns fizeram crer.
3.     A situação global em que estamos mergulhados não resulta da penalização por parte dos mercados de défices públicos excessivos ou do nível de endividamento global. Vivemos numa crise global de procura essencialmente determinada pela reação lógica e racional de famílias e empresas que corrigem a perda de valor dos seus ativos na sequência da crise financeira de 2007-2008.
4.      Toda esta irracionalidade global é majorada na zona euro e, dentro dela, nas economias do sul, onde se projetam todas estas irracionalidades (melhor se encavalitam), agravando por isso e irremediavelmente as suas chances de saída. Para agravar esta sobreposição de causas em algumas, senão em todas, existem causas estruturais internas de crise que potenciam todo o contexto desfavorável gerado pela irracionalidade externa.
5.     Como sair, nestas condições, da depressão prolongada em que as causas da crise e os erros de abordagem à sua superação nos colocaram?
A resposta é abrangente mas inequívoca:
  • Romper com todas as leituras e abordagens da crise que nos conduziram a onde estamos e a uma aparentemente desnecessária tão tardia e anémica recuperação;
  • Compreender que estamos numa crise de procura e não de dívida e que não é possível ter famílias, empresas e Estado a reduzir despesa e em simultâneo;
  • Compreender que o nível de dívida de alguns países inibe ou condiciona a expansão fiscal e que por isso só uma coordenação macroeconómica global de políticas pode contornar/minimizar esse constrangimento;
  • Compreender que, nestas condições, a política monetária não é a solução do problema, injetando liquidez no problema, uma vez que o quantitative easing tende a não projetar-se na economia real, porque base monetária e crédito não vão de par no seu crescimento;
  • Compreender que a independência dos bancos centrais  foi concebida e consagrada estatutariamente para um contexto macroeconómico totalmente distinto, pelo menos com necessidade de alteração dos seus objetivos de atuação;
  • Compreender que podemos estar perante uma crise de ciclo longo e que, nessa perspetiva, têm de ser fortemente estimulados todos os drivers que potenciem um novo paradigma de crescimento de longo prazo;
  • Compreender que ou a arquitetura do edifício do Euro é alterada para aguentar situações de stress ou tenderá a implodir não sendo totalmente líquido que existam retiradas estratégicas com minimização de danos colaterais;
  • Admitir que (a Reinhart e Rogoff o que é de Reinhart e Rogoff) que crises financeiras e deste porte dificilmente escaparão a anulações (perdões consentidos ou impostos) de dívida;
  • Agir consequentemente.
6.      A crise portuguesa constitui uma solução problema em que todos estes fatores se encavalitam, produzindo efeitos sociais erradamente classificados de colaterais ou imprevisíveis.
7.      Por último, e face a esta constatação, uma nova relação, mais robusta e fundamentada entre indignação/participação, conhecimento e soluções políticas de governação tem de ser procurada. Aos 64 anos é estimulante estar pela primeira vez com gente que faz parte da nossa vivência do tempo longo, dos livros, do debate, da política. Mas é-o sobretudo pela perceção de que o direito à indignação participativa, o conhecimento e a geração de soluções políticas de governação para a crise não têm necessariamente de vaguear como baratas tontas e errantes à procura de coerências entre si.
Obrigado ao Rui Tavares por esta possibilidade

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