sábado, 1 de junho de 2013

E O DEBATE CONTINUA …



Como previa, a controvérsia que envolveu Reinhart e Rogoff versus Krugman, DeLong e outros está a dar origem a uma vasta densidade de contributos relevantes na blogosfera económica, a única capaz de ajustar-se ao ritmo do confronto das ideias, sobretudo a partir do momento em que os dados de base que deram origem ao artigo de R&R de 2010 se tornaram acessíveis a todos os investigadores.
O limiar terrífico dos 90% de peso da dívida pública no PIB já lá vai, já que de todos os intervenientes ninguém parece interessado apostar as barbas ou outra qualquer preciosidade pessoal para confirmar o realismo desse limiar. Como já aqui referi, R&R encontraram no deixar cair dessa bandeira uma escapatória para se manterem vivos na defesa das suas ideias.
Na última semana, a questão que foi mais desenvolvida foi da causalidade reversa entre dívida e crescimento. Ou seja, não seria (ou não seria apenas) o peso excessivo da dívida a determinar a penalização de crescimento, mas antes pelo contrário o fraco crescimento a determinar o incremento desse peso. O assunto presta-se a que a econometria entre na discussão, ocupe o palco e se sucedam os testes a orientar a discussão para uma ou outra causalidade.

Miles Kimball and Yichuan Wang no Quartz desenvolvem um exercício sugestivo relacionando os pesos da dívida pública no PIB com crescimentos médios dos últimos 5 anos e dos próximos 5 anos. Independentemente dos apuros e acertos econométricos que transcendem o âmbito deste blogue, a verdade é que os dados sistematizados por Kimball e Wang vão no sentido de sugerir que são os baixos crescimentos passados que determinam mais altos pesos da dívida. Já o exercício com os crescimentos médios nos 5 anos posteriores aos anos de observação de peso da dívida a relação descendente é muito menos clara e tende a perder significância para valores mais altos do peso da dívida.
Dito de outra maneira, os ritmos de crescimento económico dos países nos últimos 5 ou 10 anos conseguem prever com alguma consistência a evolução do peso da dívida pública no PIB, invertendo o sentido da causalidade que foi inicialmente associado aos estudos de Reinhart e Rogoff.
O crescimento anémico da economia portuguesa na década de 2000-2010 indiciaria assim o aumento do peso da dívida pública no PIB português, hoje agravado pela inconsistência da consolidação fiscal a todo o preço. A orientação do debate parece começar a dar razão a uma das últimas frases de Krugman: “We’ve spent three years letting policy be dominated byu nwarranted fears”.
 

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