Como previa, a controvérsia que envolveu Reinhart
e Rogoff versus Krugman, DeLong e outros está a dar origem a uma vasta
densidade de contributos relevantes na blogosfera económica, a única capaz de
ajustar-se ao ritmo do confronto das ideias, sobretudo a partir do momento em
que os dados de base que deram origem ao artigo de R&R de 2010 se tornaram
acessíveis a todos os investigadores.
O limiar terrífico dos 90% de peso da dívida
pública no PIB já lá vai, já que de todos os intervenientes ninguém parece
interessado apostar as barbas ou outra qualquer preciosidade pessoal para
confirmar o realismo desse limiar. Como já aqui referi, R&R encontraram no
deixar cair dessa bandeira uma escapatória para se manterem vivos na defesa das
suas ideias.
Na última semana, a questão que foi mais
desenvolvida foi da causalidade reversa entre dívida e crescimento. Ou seja,
não seria (ou não seria apenas) o peso excessivo da dívida a determinar a
penalização de crescimento, mas antes pelo contrário o fraco crescimento a
determinar o incremento desse peso. O assunto presta-se a que a econometria
entre na discussão, ocupe o palco e se sucedam os testes a orientar a discussão
para uma ou outra causalidade.
Miles Kimball and Yichuan Wang no Quartz
desenvolvem um exercício sugestivo relacionando os pesos da dívida pública no
PIB com crescimentos médios dos últimos 5 anos e dos próximos 5 anos. Independentemente
dos apuros e acertos econométricos que transcendem o âmbito deste blogue, a
verdade é que os dados sistematizados por Kimball e Wang vão no sentido de
sugerir que são os baixos crescimentos passados que determinam mais altos pesos
da dívida. Já o exercício com os crescimentos médios nos 5 anos posteriores aos
anos de observação de peso da dívida a relação descendente é muito menos clara
e tende a perder significância para valores mais altos do peso da dívida.
Dito de outra maneira, os ritmos de crescimento
económico dos países nos últimos 5 ou 10 anos conseguem prever com alguma
consistência a evolução do peso da dívida pública no PIB, invertendo o sentido
da causalidade que foi inicialmente associado aos estudos de Reinhart e Rogoff.
O crescimento anémico da economia portuguesa na década
de 2000-2010 indiciaria assim o aumento do peso da dívida pública no PIB
português, hoje agravado pela inconsistência da consolidação fiscal a todo o
preço. A orientação do debate parece começar a dar razão a uma das últimas
frases de Krugman: “We’ve spent three years letting policy be dominated byu nwarranted fears”.
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