segunda-feira, 3 de junho de 2013

MAIS HISTÓRIAS SOBRE O PORTO-VIGO-PORTO

(Paulo Ricca, Jornal Público)



As peripécias em torno da ligação ferroviária Porto-Vigo arriscam-se a transformar-se num dos mais completos embustes da governação e o que é mais grave envolvendo os governos de Portugal e Espanha, a energia da cooperação no interior do Eixo Atlântico (associação de cidades do sistema urbano do Noroeste Peninsular) e alguns municípios portugueses.
Existe uma reivindicação já antiga, a que o Eixo Atlântico deu alguma expressividade e mediatização, de dotar a linha do Minho e a sua derivação para Vigo através de Viana de uma ligação moderna, que permita a circulação de composições tipo Alfa pendular e que permita aos viajantes galegos a possibilidade de utilização articulada da ligação Porto-Lisboa.
Esta reivindicação é compatível com a eletrificação e modernização da linha entre Nine e Viana do Castelo, exige algumas intervenções infraestruturais de pequenas correções de traçado entre Viana e Valença-Tuy, ajustando-se a intervenções de natureza similar do lado espanhol, a cargo do governo do país vizinho. Do ponto de vista político, esta reivindicação acomoda razoavelmente o abandono da ligação Braga-Vigo por TGV, muito mais dispendiosa e orçamentalmente incomportável para as limitações atuais. A posição de Braga surge relativamente desvalorizada, mas uma ligação rápida entre Braga e Nine coloca facilmente a cidade numa linha que entroncará com a ligação por TGV entre a Galiza e o resto da europa, a partir de Vigo.
Todos os dados disponíveis apontam para que a procura da ligação esteja concentrada nos troços intermédios, designadamente entre Porto – Barcelos-Viana e, nesse contexto, a modernização da ligação internacional teria necessariamente de capitalizar os fluxos em território nacional. Os fluxos exclusivos entre Porto e Vigo são de diminuta expressão e a sua intensificação futura dependerá da própria modernização da ligação.
Ora, por obra e graça de decisão política superior, foi anunciada uma ligação direta entre Porto e Vigo, sem paragens intermédias, com significativa redução do tempo de viagem, aparentemente sem a realização dos aperfeiçoamentos infraestruturais necessários para acomodar uma circulação do tipo Alfa pendular ou inter-cidades. A CP parece desconhecer qualquer estudo de procura de suporte à decisão e da REFER não se ouviu qualquer posição. Ou seja, a pior maneira de lançar o projeto e condená-lo prematuramente a um défice de procura, pois sem as ligações intermédias atrás referidas, ele torna-se vulnerável a qualquer lógica de encerramento de ligações sem uma procura mínima.
Sinais evidentes dos tempos e do obreirismo político e de guinadas ao sabor do improviso que nos governa.

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