(Paulo Ricca, Jornal Público)
As peripécias em torno da ligação ferroviária
Porto-Vigo arriscam-se a transformar-se num dos mais completos embustes da
governação e o que é mais grave envolvendo os governos de Portugal e Espanha, a
energia da cooperação no interior do Eixo Atlântico (associação de cidades do
sistema urbano do Noroeste Peninsular) e alguns municípios portugueses.
Existe uma reivindicação já antiga, a que o Eixo
Atlântico deu alguma expressividade e mediatização, de dotar a linha do Minho e
a sua derivação para Vigo através de Viana de uma ligação moderna, que permita
a circulação de composições tipo Alfa pendular e que permita aos viajantes
galegos a possibilidade de utilização articulada da ligação Porto-Lisboa.
Esta reivindicação é compatível com a eletrificação
e modernização da linha entre Nine e Viana do Castelo, exige algumas intervenções
infraestruturais de pequenas correções de traçado entre Viana e Valença-Tuy,
ajustando-se a intervenções de natureza similar do lado espanhol, a cargo do
governo do país vizinho. Do ponto de vista político, esta reivindicação acomoda
razoavelmente o abandono da ligação Braga-Vigo por TGV, muito mais dispendiosa
e orçamentalmente incomportável para as limitações atuais. A posição de Braga
surge relativamente desvalorizada, mas uma ligação rápida entre Braga e Nine
coloca facilmente a cidade numa linha que entroncará com a ligação por TGV
entre a Galiza e o resto da europa, a partir de Vigo.
Todos os dados disponíveis apontam para que a
procura da ligação esteja concentrada nos troços intermédios, designadamente
entre Porto – Barcelos-Viana e, nesse contexto, a modernização da ligação
internacional teria necessariamente de capitalizar os fluxos em território
nacional. Os fluxos exclusivos entre Porto e Vigo são de diminuta expressão e a
sua intensificação futura dependerá da própria modernização da ligação.
Ora, por obra e graça de decisão política
superior, foi anunciada uma ligação direta entre Porto e Vigo, sem paragens
intermédias, com significativa redução do tempo de viagem, aparentemente sem a
realização dos aperfeiçoamentos infraestruturais necessários para acomodar uma
circulação do tipo Alfa pendular ou inter-cidades. A CP parece desconhecer qualquer
estudo de procura de suporte à decisão e da REFER não se ouviu qualquer posição.
Ou seja, a pior maneira de lançar o projeto e condená-lo prematuramente a um défice
de procura, pois sem as ligações intermédias atrás referidas, ele torna-se
vulnerável a qualquer lógica de encerramento de ligações sem uma procura mínima.
Sinais evidentes dos tempos e do obreirismo político
e de guinadas ao sabor do improviso que nos governa.
Sem comentários:
Enviar um comentário