É quase obscena a forma pouco escrupulosa e nada rigorosa como políticos, comentadores e outros habilidosos recorrem a números para florearem os seus argumentos. Os exemplos abundam quotidianamente e alguns são bem sintomáticos e graves a múltiplos títulos.
Ilustro com um episódio recente e, na realidade, meramente simbólico e de alcance verdadeiramente inofensivo: há dias, no quadro da conferência do JN, ouvia Luís Filipe Menezes a sustentar a ideia, justa no essencial, de um significativo grau de ineficiência da promoção turística nacional quando subitamente lhe ocorreu afirmar que teríamos sido o único país do mundo (?) com crescimento zero em número de turistas – falou de uma estacionaridade em torno de um valor de 14 milhões – neste período de crise. Pus as minhas dúvidas sobre o facto e decidi ir confirmar.
Em termos estritamente nacionais, os dados disponíveis mostram (primeiro gráfico abaixo) que apenas 2009 foi um ano de efetiva quebra em termos de volume turístico, seja no tocante a hóspedes estrangeiros seja no tocante a hóspedes totais (i.e., incluindo os serviços prestados a cidadãos portugueses). Sendo que entre esse ano e 2012 foi superior a um milhão e meio o aumento do número de turistas provenientes de além-fronteiras. De registar, ainda, que são os hóspedes totais (contando, portanto, com a componente dos turistas nacionais) que rondam os tais 14 milhões.
Em termos comparativos, e a partir de uma amostra predominantemente assente na proximidade europeia e/ou dimensional), os dados disponíveis mostram (segundo gráfico abaixo) que o número de turistas em Portugal cresceu durante os quatro anos em análise a uma taxa média de quase 2% e que esse crescimento foi bem mais significativo do que na grande maioria dos países considerados (apenas inferior ao da Bulgária e Roménia mas claramente superior ao da Itália, Grécia e Espanha, designadamente).
Por muito que não gostemos (ou não tenhamos gostado) do “Allgarve”, da gestão da AICEP, dos critérios do ITP, da abordagem às Regiões de Turismo, etc. etc. etc. – e haverá certamente boas razões para cada um dos itens! –, o seu a seu dono…
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