segunda-feira, 24 de junho de 2013

AS FÚRIAS DE MÓNICA OU UM INDICADOR DE MUDANÇA



Poderia ser talvez um título de filme de culto, mas não é. É simplesmente uma interpretação sui generis de mais um artigo de Maria Filomena Mónica (MFM) no Expresso do último sábado. Sou dos que entendo o ar permanentemente amargurado do António Barreto e por isso imaginam que não morro de amores pela loira mas não burra MFM. Mas ao contrário de outros, dá-me um certo gozo ler a sua prosa (vá lá saber-se porquê, nunca me dei ao trabalho de autopsicanalisar essa aparentemente mórbida distração. O artigo de sábado deu-me a explicação. A minha tese (racionalizadora do referido masoquismo) é esta: sempre que o verniz estala a MFM e que o seu veneno é destilado em cada parágrafo de prosa, estamos perante um indicador de que algo está a mudar e que essa mudança faz estalar o conservadorismo pretensamente rigoroso da nossa personagem, permanentemente amarrada a Oxford e a uma sociologia segundo ela pura de intrusões mais ou menos incompatíveis com o estatuto de ciência.
Explico-me.
O artigo provocatoriamente designado de “A emergência da sociologia do bas fond” leva MFM a percorrer a já conhecida pista de não aguentar a visibilidade internacional de Boaventura Sousa Santos, revisitando essa pista, e associando o estatuto de rapper ao investigador e a perda do norte por parte da sociologia. Até aqui nada de novo. MFM terá seguramente um animalzinho de estimação (também para isso é preciso ter sorte) e o seu inimigo de estimação é seguramente BSS. Mas na sua ânsia de ferir a corte, debruça-se no projeto FCT Keep it Simple, Make it Fast, dos meus conhecidos e amigos Paula Guerra (que enjeitou este blogue) e Augusto Santos Silva. O tema da investigação poderia ser intitulado de “sociologia do punk” e está numa linha de aprofundamento de uma das mais sugestivas teses de doutoramento da sociologia contemporânea da cultura em Portugal sobre o rock de autoria de Paula Guerra.
O espanto e desdém de MFM quanto a este projeto (“Eis o delírio, mais um, financiado por um Estado pobre, clientelar e ignorante”) são segundo a minha tese um indicador de que a “ilustre oxfordiana” foi ultrapassada pela mudança, não compreende o tempo em que vive e destila veneno e frustração à medida que os paradigmas que a rodeiam a ultrapassam, seja na visibilidade, seja no acesso aos fundos públicos. Isto não significa que MFM não deva ser lida e que não se reconheça valia em alguma da sua investigação de sociologia histórica, de matriz biográfica, que pessoalmente aprecio bastante. Mas invocar o nome de Adérito Sedas Nunes como ela o faz para um argumento de autoridade moral contra os rumos da sociologia que ela atribui ao exemplo do projeto de Paula Guerra é pretensioso e gostaria de conhecer o que pensam sobre isto outros investigadores do ICS tão zelosos da invocação do nome e herança de Sedas Nunes.
E o que pensará também José Madureira Pinto desta questão?

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