Poderia ser talvez um título
de filme de culto, mas não é. É simplesmente uma interpretação sui generis de mais um artigo de Maria
Filomena Mónica (MFM) no Expresso do último sábado. Sou dos que entendo o ar
permanentemente amargurado do António Barreto e por isso imaginam que não morro
de amores pela loira mas não burra MFM. Mas ao contrário de outros, dá-me um
certo gozo ler a sua prosa (vá lá saber-se porquê, nunca me dei ao trabalho de autopsicanalisar
essa aparentemente mórbida distração. O artigo de sábado deu-me a explicação. A
minha tese (racionalizadora do referido masoquismo) é esta: sempre que o verniz
estala a MFM e que o seu veneno é destilado em cada parágrafo de prosa, estamos
perante um indicador de que algo está a mudar e que essa mudança faz estalar o
conservadorismo pretensamente rigoroso da nossa personagem, permanentemente
amarrada a Oxford e a uma sociologia segundo ela pura de intrusões mais ou
menos incompatíveis com o estatuto de ciência.
Explico-me.
O artigo provocatoriamente designado de “A emergência da sociologia do bas fond” leva MFM a percorrer a já
conhecida pista de não aguentar a visibilidade internacional de Boaventura
Sousa Santos, revisitando essa pista, e associando o estatuto de rapper ao investigador e a perda do
norte por parte da sociologia. Até aqui nada de novo. MFM terá seguramente um animalzinho
de estimação (também para isso é preciso ter sorte) e o seu inimigo de estimação
é seguramente BSS. Mas na sua ânsia de ferir a corte, debruça-se no projeto FCT
Keep it Simple, Make it Fast, dos
meus conhecidos e amigos Paula Guerra (que enjeitou este blogue) e Augusto Santos
Silva. O tema da investigação poderia ser intitulado de “sociologia do punk” e está numa linha de
aprofundamento de uma das mais sugestivas teses de doutoramento da sociologia contemporânea
da cultura em Portugal sobre o rock de autoria de Paula Guerra.
O espanto e desdém de MFM quanto a este projeto (“Eis o delírio, mais um, financiado por um Estado pobre, clientelar e
ignorante”) são segundo a minha tese um indicador de que a “ilustre
oxfordiana” foi ultrapassada pela mudança, não compreende o tempo em que vive e
destila veneno e frustração à medida que os paradigmas que a rodeiam a ultrapassam, seja na visibilidade, seja no acesso aos fundos públicos. Isto não
significa que MFM não deva ser lida e que não se reconheça valia em alguma da sua investigação de
sociologia histórica, de matriz biográfica, que pessoalmente aprecio bastante. Mas invocar o nome de Adérito Sedas
Nunes como ela o faz para um argumento de autoridade moral contra os rumos da
sociologia que ela atribui ao exemplo do projeto de Paula Guerra é pretensioso
e gostaria de conhecer o que pensam sobre isto outros investigadores do ICS tão
zelosos da invocação do nome e herança de Sedas Nunes.
E o que pensará também José Madureira Pinto desta questão?
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