domingo, 2 de junho de 2013

COSTA E O PORTO


Sim, eu sei… que a política nunca foi uma atividade bacteriologicamente pura através dos tempos. Sim, eu sei… que a política dita democrática é cada vez mais feita de somatórios de comutativas parcelas de curtos prazos. Sim, eu sei… que a política modernaça secundariza as ideologias e os valores para se fixar em resultados e ponto final. Sim, eu sei… que a política à portuguesa é um terreno reservado aos predestinados em “capacidade política”, chavão que vale por uma espécie de sinónimo para ex-militante das jotas, ex-colador de cartazes, ex-frequentador de sótãos conspirativos e similares.

Et pourtant… A meu sentir, foi obsceno ver a “Quadratura do Círculo” abrir com uma declaração solicitada por António Costa a propósito do seu desejo de se mostrar “solidário com Rui Rio”. E disse, entre o sublinhado de que “o Porto não é uma localidade de Portugal, é uma das principais cidades do País” e várias outras evidências inquestionáveis sobre a importância da reabilitação urbana como forma de valorizar os centros das cidades ou de relançar o setor da construção de uma forma inteligente: “Eu tive, aliás, a oportunidade de estar há pouco tempo no Porto e de verificar o sucesso efetivo dos trabalhos daquela sociedade de reabilitação urbana na Baixa do Porto, que é onde incidem os trabalhos da SRU-Porto Vivo”!

Mas, não inteiramente satisfeito, Costa quis ainda melhor “puxar a graxa aos sapatos” e acrescentar uma denúncia da “cultura democrática deste Governo” e da sua “estratégia de asfixia” em relação à SRU do Porto. Nestes termos: “Porque é que este problema se coloca com a Sociedade de Reabilitação do Porto? Por um objetivo fundamental, que é: isto foi uma operação montada para atacar o Rui Rio e para atacar o anterior presidente da Porto Vivo, que é o candidato independente Rui Moreira. E, portanto, é um caso de instrumentalização do Estado e dos Institutos do Estado a benefício do candidato do Governo no Porto, que é o Dr. Menezes, procurando denegrir um trabalho muito importante que tem vindo a ser feito na cidade do Porto (…). Eu acho isto de uma gravidade extraordinária, porque há muitos anos que não assistíamos a algo desta natureza.”

Passando ao lado de minudências como o de a ministra da tutela (Assunção Cristas) ser membro do segundo partido da coligação e de este ter apoiado formalmente o dito “candidato independente Rui Moreira”, o que não faz do Dr. Menezes um assim tão óbvio “candidato do Governo no Porto”, interrogo-me sobre o que justificará este autêntico e vergonhoso “frete”. Uma jogadita espertalhona em benefício do orçamento da Capital? Uma vontade de querer parecer parte de alinhamentos mais bem vistos e pessoalmente mais favoráveis? Uma delirante antecipação para o presente de um mui desejado “centrão”? Mera verborreia ignorante? Ou, tão-só, um enigma da mesma natureza daquele acobardamento mal-amanhado que fez do candidato à liderança do PS a deceção nacional do ano?

Entretanto, Rio soma ao seu balanço o mérito de ter reunido os “notáveis do Porto” e gargalha com o basismo parolo dessas elites que manipula. Elites sem norte, sem memória, sem ética e sem estética. Elites que tudo branqueiam em nome de um prato de lentilhas, sejam umas letras/fotos na comunicação social ou a mera esperança de não serem esquecidas em banquetes futuros. Um assunto sobre o qual tantas e tão enojantes têm sido as loas que acabará por ficar a crédito deste blogue, na pessoa do António Figueiredo, a única análise digna desse nome e que consta de um post de 25 de maio intitulado “Mobilização e união à moda do Porto”…

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