quarta-feira, 19 de junho de 2013

BOAS IDEIAS VINDAS DE PARIS



Uma semana infernal de trabalho com tempo escasso para blogar com pesquisa mais madura, por isso sobretudo alimentado por resultados de visitas mais ou menos furtivas aos blogues de estimação.
Nessa linha, um post de Krugman de Paris, a propósito de uma conferência sobre a questão europeia, em diálogo cruzado com MárioMonti. Ideias revigorantes, como se costuma dizer, música para os meus ouvidos, pois Krugman retoma um dos “conceitos”(???) mais obscuros de toda esta nomenclatura que tem regulado a política macroeconómica europeia, com ajuda intermitente e algo envergonhada do FMI e de cuja ambiguidade tenho repetidas vezes feito eco neste blogue. Nada mais nada menos do que as famigeradas reformas estruturais. O conceito é ambíguo pois tende a ser apresentado como algo de uniforme, de unidimensional, teleguiado em função de modelos de organização económica e social predeterminados e como é o caso expressivo em Portugal frequentemente sem escrutínio democrático, afirmados pela porta do cavalo e com a conhecida argumentação “é o que os mercados determinam”.
Outros economistas, onde me incluo, usam outro conceito, o de mudança estrutural, que não é determinista e que se limita a reconhecer que o aumento a longo prazo do rendimento per capita vem acompanhado de alterações estruturais de natureza económica, social e cultural que, embora assumam algumas regularidades, traduzem-se sempre por especificidades nos países em função das suas características próprias. Por isso, quando a nomenclatura nos bombardeia com as suas próprias limitações e acena com a necessidade de crescimento e reformas estruturais há que clarificar democraticamente para que reformas estruturais pode democraticamente a sociedade portuguesa ser mobilizada. É toda uma outra conversa.
Como é óbvio, podem emergir mudanças incómodas que, não se forem assumidas estrategicamente, a dinâmica das coisas acabará por impô-las e por vezes, por ironia da história, por governos a que não atribuiríamos essa responsabilidade. É o caso provável da provável incapacidade da sociedade francesa em aguentar algumas regalias conquistadas (idade de reforma, semana de 35 horas, etc., etc.).

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