Uma semana infernal de trabalho com tempo escasso
para blogar com pesquisa mais madura, por isso sobretudo alimentado por resultados
de visitas mais ou menos furtivas aos blogues de estimação.
Nessa linha, um post de Krugman de Paris, a propósito
de uma conferência sobre a questão europeia, em diálogo cruzado com MárioMonti. Ideias revigorantes, como se costuma dizer, música para os meus ouvidos,
pois Krugman retoma um dos “conceitos”(???) mais obscuros de toda esta
nomenclatura que tem regulado a política macroeconómica europeia, com ajuda
intermitente e algo envergonhada do FMI e de cuja ambiguidade tenho repetidas
vezes feito eco neste blogue. Nada mais nada menos do que as famigeradas
reformas estruturais. O conceito é ambíguo pois tende a ser apresentado como
algo de uniforme, de unidimensional, teleguiado em função de modelos de
organização económica e social predeterminados e como é o caso expressivo em
Portugal frequentemente sem escrutínio democrático, afirmados pela porta do
cavalo e com a conhecida argumentação “é o que os mercados determinam”.
Outros economistas, onde me incluo, usam outro
conceito, o de mudança estrutural, que não é determinista e que se limita a reconhecer
que o aumento a longo prazo do rendimento per
capita vem acompanhado de alterações estruturais de natureza económica,
social e cultural que, embora assumam algumas regularidades, traduzem-se sempre
por especificidades nos países em função das suas características próprias. Por
isso, quando a nomenclatura nos bombardeia com as suas próprias limitações e
acena com a necessidade de crescimento e reformas estruturais há que clarificar
democraticamente para que reformas estruturais pode democraticamente a
sociedade portuguesa ser mobilizada. É toda uma outra conversa.
Como é óbvio, podem emergir mudanças incómodas
que, não se forem assumidas estrategicamente, a dinâmica das coisas acabará por
impô-las e por vezes, por ironia da história, por governos a que não atribuiríamos
essa responsabilidade. É o caso provável da provável incapacidade da sociedade
francesa em aguentar algumas regalias conquistadas (idade de reforma, semana de
35 horas, etc., etc.).
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