domingo, 8 de novembro de 2020

A FUNDAÇÃO MARQUES DA SILVA


O palacete está ali, na Praça Marquês do Pombal do Porto, desde que me conheço e a harmonia das suas linhas sempre me atraiu a atenção sem que a passagem dos anos me tivesse despertado a curiosidade de sobre ele investigar. Deste modo, só em recente conversa com o Reitor António Sousa Pereira percebi que se tratava da casa principal de uma propriedade pertencente à família (Lopes Martins) da mulher do Arquiteto José Marques da Silva (que dentro dela construiu a sua própria e belíssima Casa-Atelier), o artista que “moldou a fisionomia da cidade do Porto” na primeira metade do século XX (Estação de S. Bento, Teatro Nacional de S. João, Casa de Serralves, Liceus Alexandre Herculano e Rodrigues de Freitas, Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, entre outras obras notáveis). E que aquele conjunto patrimonial foi doado, conjuntamente com os demais bens móveis e direitos, à Universidade do Porto pela sua filha e genro (Maria José Marques da Silva e David Moreira da Silva), igualmente arquitetos, e posteriormente transformado em sede de uma fundação de direito privado à qual foi dado o nome do prestigiado arquiteto e atribuída uma missão de promoção científica, cultural, formativa e artística (designadamente a classificação, preservação, conservação, investigação, estudo e divulgação de todo o património artístico e arquitetónico do arquiteto, o tratamento do acervo literário, artístico, arquitetónico e urbanístico daqueles seus familiares diretos e o acolhimento ou incorporação de outros fundos ou unidades documentais de valor patrimonial, histórico, científico, artístico ou documental relativos, preferencialmente, à arquitetura e ao urbanismo portuense e português).

 

Razões circunstanciais levaram-me a uma visita guiada àquele extraordinário espaço, na sequência de um amável convite da Vice-Reitora Fátima Vieira (atual presidente da Fundação) e podendo ainda beneficiar de um olhar relativamente detalhado sobre as exposições ali inauguradas a 17 de outubro: “Siza - Inédito e Desconhecido” (com curadoria de António Choupina) e “Mais que Arquitetura” (com curadoria de Luís Urbano, igualmente vice-presidente da Fundação). Ambas magníficas. Sendo a primeira uma “exposição de desenhos pertencentes ao arquivo pessoal de Álvaro Siza” (não apenas da autoria de Siza, incluindo esculturas, mas também desenhos assinados por seus familiares diretos, com destaque para a sua mulher Maria Antónia) que está patente na Casa-Atelier e é apresentada pela primeira vez em Portugal depois de ter sido já exibida na Tchoban Foundation (Berlim). E sendo a segunda uma primeira e limitada abertura à Cidade dos imensos arquivos da Fundação, patente no Palacete e “tendo como ambição maior revelar o heterogéneo universo de interesses dos arquitetos nela representados”, a saber “exercícios escolares, projetos de arquitetura e de cidade, desenhos, esquissos, maquetes, fotografias, filmes, textos, publicações, aulas, provas académicas, registos de viagens dentro e fora de Portugal, correspondência, bibliotecas, coleções de arte e literatura, objetos de design, mobiliário e até edifícios”.

 

Esteve sempre no ar, por entre as conversas que foram sendo entabuladas, a presente ambição maior da Fundação de construção de um novo Centro de Documentação no jardim traseiro (um projeto de Álvaro Siza ali já visualizável em maqueta), que se traduzirá no “mais expressivo arquivo de documentação de arquitetura do país, reunindo os acervos de mais de 40 arquitetos portugueses” (integrando os atuais arquivos da Fundação Marques da Silva e da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e nomes como Fernando Távora, José Carlos Loureiro, Arménio Losa, Viana de Lima, Alcino Soutinho, Hestnes Ferreira, Bartolomeu Costa Cabral, Manuel Graça Dias, Alexandre Alves Costa ou Sergio Fernandez).

 

Aqui fica o testemunho sincero do meu agradecimento pessoal aos três companheiros de uma tarde de fascinante “viagem”, o meu reconhecimento cidadão à família, à Universidade do Porto e a tantos outros doadores e contribuintes e, necessariamente, a minha sugestão a todos os leitores deste post no sentido de que não percam a oportunidade de acederem a mais uma jóia que esteve escondida e surge agora em valorização na nossa Invicta.


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