segunda-feira, 9 de novembro de 2020

VOLTANDO À PÁTRIA...

Depois de um longo e auspicioso interregno americano, é altura de regressarmos à apagada e vil tristeza nacional. Com a situação sanitária a concitar, naturalmente, as maiores atenções. A este nível, são úteis pela sua clareza e simplicidade os gráficos que Luís Marques Mendes vem apresentando na sua “missa dominical” da SIC (acima os de ontem) – registo preocupante de aumentos em crescendo das médias diárias de novos casos, de internados e de óbitos, perceção nítida de um desfasamento entre a presente distribuição etária dos novos casos (mais de 50% concentrada entre os 20 e os 49 anos, ao invés do que ocorreu na primeira fase) e a evolução dos óbitos por idade (88% observados acima dos 70 anos) e evidência de um SNS que se aproxima dos seus limites em termos de capacidade de resposta. Há, no entanto, algo que gradativamente me repugna neste quadro, a saber: as proclamações “achistas” dos nossos comentadores e agentes políticos que – quais treinadores de bancada! – sempre têm algo a acrescentar e criticar na generalidade ou na especialidade mas de um modo tão certeiro e alegadamente sabedor que nos leva a lamentar não ser deles a capacidade última de decisão (assim estaríamos nós bem, designadamente se fosse plausível ser-lhes dada a possibilidade de conhecer o resultado antes do fim do jogo!). Sem prejuízo do dito, claro que virá a ser relevante que um dia se faça uma avaliação séria e rigorosa das prestações dos nossos principais responsáveis públicos, Presidente da República e Primeiro-Ministro incluídos (até por ser duvidoso que as idiossincrasias da “dupla”, quer em termos individuais quer em termos combinados, não tenham tido impactos nefastos sobre comportamentos erráticos dos portugueses).

Uma outra dimensão é a económica, sendo que esta se desdobra por múltiplos vetores. Fico-me, por ora, pelas moratórias de crédito, lidas a partir do seu último balanço realizado pelo Banco de Portugal com data reportada a 30 de setembro. Por um lado, mais de 812 mil pedidos de suspensões contratuais de pagamentos de prestações e quase 752 mil concedidos (93%). Por outro lado, uma dominância das moratórias concedidas em sede de créditos à habitação e hipotecários (42%) e de créditos ao consumo (29%) – conduzindo assim a mais de 535 mil contratos (71%) respeitantes a famílias e particulares –, o que corresponde a um apoio socialmente meritório mas não deixa de traduzir uma presença percentualmente escassa da criação de riqueza proveniente da atividade empresarial (216 mil contratos, equivalendo a 29% do total). Em qualquer caso, uma bomba-relógio que vai contando os seus minutos e deixando as suas marcas (também nas contas dos bancos), independentemente de uma necessária contraposição entre a decretada impossibilidade de novos pedidos de adesão e o prolongamento da data-limite e vigência dos anteriores para o final de setembro de 2021. Não sei, não... e, obviamente, ainda nos falta falar do crescimento, do desemprego, da dívida, dos fundos comunitários e da mudança estrutural – pelo menos... 

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