(A crise pandémica e as diferentes formas de confinamento que a sua gestão exige e exigerá geram irreversivelmente efeitos recessivos, tal como os números comparativos do Eurostat o comprovam. Os economistas sabem que para além desses efeitos recessivos uma outra interrogação tenderá a pairar sobre as economias afetadas e Portugal não será exceção. Que efeitos de longo prazo terão esses efeitos recessivos?)
Os números das previsões de outono quer da Comissão Europeia, quer da OCDE, colocam Portugal imediatamente após a Espanha, a Itália e a França (esta última só para os dados da UE) entre os países europeus com maior queda prevista do PIB em 2020, mais propriamente de 9,3%. A queda do PIB no 2ºtrimestre foi mesmo de 13,9%, com quedas da produção industrial particularmente gravosas em maio e em julho deste ano. O facto das quedas de produto entre as economias europeias não ser homogénea pode suscitar interrogações quanto ao diferente impacto económico da pandemia, admitindo que a sua intensidade não foi particularmente diferente (sobretudo nesta segunda vaga) entre os países da União. Mas a queda do produto em si seria sempre irreversível e inevitável, já que a crise sanitária exige suspensão de atividade para ser controlada em moldes acomodáveis pelos sistemas de saúde.
Sabemos também que a capacidade das empresas de resistência aos efeitos recessivos pandémicos é muito desigual, não só porque os confinamentos têm sido seletivos do ponto de vista das atividades atingidas, mas porque a situação das empresas em termos económicos e financeiros antes da crise era muito desigual, para um panorama de baixa autonomia financeira (peso de capitais próprios) na generalidade das empresas portuguesas.
Tal como aconteceu na crise das dívidas soberanas, a destruição do sistema produtivo de muito pequenas e de pequenas empresas é particularmente gravosa, com a exceção presente de uma situação comparativamente melhor da construção civil, que tem aguentado inúmeras economias locais. O setor do comércio, da hotelaria e da restauração estão a sofrer pelo contrário um impacto recessivo bem mais sério.
O problema é que existe sempre a probabilidade elevada desses efeitos recessivos estenderem a sua influência para além dos efeitos conjunturais de curto prazo. Os economistas designam essa possibilidade de efeito de histerese (hysteresis), que avalia a possibilidade do produto potencial das economias (o produto máximo que as economias podem atingir com pleno emprego dos recursos e da tecnologia) ser diminuído com os abandonos de atividade empresarial e de presença no mercado de trabalho que a crise pode originar. Usando o cartoon que abre este post, podemos dizer que os pequenos comércios, restaurantes e outros serviços que surgem agora fechados após o embate dos confinamentos não é seguro que reabram quando a gestão da pandemia estiver controlada. Os vários tipos de apoios que a intervenção pública pode proporcionar podem não ser suficientes para evitar o encerramento e, após ele ser consumado, há uma miríade de situações que podem acontecer.
Não há, de acordo com o meu conhecimento, qualquer estimativa válida do peso que o fenómeno da histerese pode assumir nesta crise recessiva e pandémica. Mas o que esse efeito nos sugere é que, para caso de negócios com viabilida.de económica, os apoios que for possível assegurar para evitar o encerramento não terão apenas o retorno de garantia de empregos e de minimização de quebras de rendimento. Para além disso, esses apoios poderão assegurar que o produto potencial da economia portuguesa não seja estruturalmente reduzido
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