Estava escrito nas estrelas que o tema ia ser tema. Sendo o mesmo já um clássico da história da política contemporânea, dividindo os defensores da democracia entre uma inaceitável concessão em matéria de valores (nada, nunca, com a extrema-direita!) e uma tolerante aceitação do chamado “jogo democrático” legitimado pelo voto (sim a negociar com todo e qualquer, apenas importará não pôr em causa a “matriz”). Esta última foi a versão que Rui Rio nos veio contar ontem, naquele seu tom abrutalhado que às vezes remunera e outras vezes irrita (como foi o caso de ontem, naquelas suas perguntas retoricamente provocadoras tipo “fazer uma proposta de redução dos deputados regionais, isto é fascista, de extrema-direita?”).
Tudo se reconduz, afinal, a uma questão de cultura política (ou falta dela). Porque Rio é um experiente especialista numa espécie de politiquice feita à pressa entre um suposto bom senso e uma autodeclarada frontalidade, mais impressionista e figadal do que sabedora e racional – trata-se de algo que nasceu e cresceu com ele, sem que um eventual recurso aos livros e à cultura tivesse dado aso a que se moldasse para fórmulas pessoais e políticas mais consistentes. As declarações foram mais do que elucidativas, mas uma bastaria para que tudo ficasse dito em sede de contradição nos termos: “se o Chega se moderar, pode haver hipóteses, naturalmente, de diálogo”, acrescentando que “nos Açores, moderou-se”. Aqui chegado, Rio bem pode acusar o PS de mentir agitando acordos nacionais e coligações do PSD com o Chega ou de se ter entregue ao BE e ao PCP em muitas leis e em todos os OE’s desde a Geringonça de 2015, assim como afirmar a sua concordância com a redução do número de deputados regionais, a criação de um Gabinete Regional de Luta Contra a Corrupção, a redução da elevadíssima subsidiodependência na Região e a promoção do aprofundamento da autonomia política dos Açores. Porque a questão não é de todo essa, como aliás os seus companheiros e chefes-de-fila internacionais (Angela Merkel e a CDU, p.e.) claramente vêm demonstrando. Sim, Rio ultrapassou indevidamente uma linha vermelha – do ponto de vista democrático, bem entendido...
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