A caminho de se completarem nove meses sobre a declaração pela OMS do novo coronavírus como pandemia, e com mais de 55 milhões de casos reconhecidos e de 1,3 milhões de mortes registadas sem querer aqui referenciar a enormidade dos sofrimentos de toda a ordem entretanto observada por todos os cantos do mundo, vivemos por estes dias uma fase de anúncios de vacinas potencialmente libertadoras (Pfizer, Moderna e AstraZeneca à cabeça). É absolutamente natural e humano que a resposta a estes anúncios tenha sido a que é revelada pela capa da “The Economist” desta semana, dominada por uma ideia assente na esperança (súbita porque de algum modo inesperada, sem dúvida, mas também súbita pelo sentido de ansiedade e urgência que a formata).
Dito isto, e sem querer meter foice em seara alheia (i.e., reconhecendo a minha ignorância essencial na matéria), sempre importará sublinhar quão longe ainda parecemos estar de uma solução que possa ser tida por tranquilizadora, convincente e rápida. Ao mesmo tempo que se sucedem as justas proclamações em favor da ciência e de crença nas suas virtualidades, também há manifestações contrárias por parte de um grande número de céticos quanto à possível resistência do vírus e até quanto à acessibilidade e gratuitidade dos antídotos que vierem a ser validados como eficazes. Com os políticos de todos os lados a procurarem dar sinais de controlo da situação e capacidade de resposta inversamente proporcionais ao tateamento perante o desconhecido que de facto os tolhe (com Ursula von der Leyen a surgir, na Europa, como um caso de estudo), o que na realidade sempre teremos de confessar é que o que de mais certo e imediato tivemos com aqueles anúncios foram as imediatas e exuberantes reações altistas dos nervosos mercados bolsistas.
(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)
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