segunda-feira, 30 de novembro de 2020

KRUGMAN SOBRE YELLEN

 


(Regresso ao tema Janet Yellen, mas agora com o respaldo de outro Grande da macroeconomia, Paul Krugman, que tinha andado arredado deste blgue há já algum tempo. O artigo de PK no New York Times é importante porque mostra que a coerência na academia pode ser útil a quem decide na política económica e monetária. E isso é algo de muito esquecido cá pelo burgo ...)

O artigo de Paul Krugman que faz primeira página da edição internacional de fim de semana do New York (que grande jornal que não hesita em dar a sua primeira página a um macroeconomista[1]) tem por título “Celebrating Janet Yellen, economist”(link aqui). Vou na onda.

O artigo tem várias dimensões, essencialmente três. Duas dessas dimensões podem ser consideradas de grande consumo público.

Primeiro, Janet Yellen para além de ser a primeira mulher a ocupar o lugar de Secretária de Estado do Tesouro, é a primeira pessoa a ocupar os três lugares mais importantes nos EUA para um economista: Presidente do Comité de Conselheiros Económicos do Presidente, Governador do Banco da Reserva Federal depois de ser um dos seus membros e agora Secretária de Estado do Tesouro.

Segundo, há na sua nomeação algo de picante para o grande público. Donald Trump impediu que Yellen fizesse um novo mandato à frente do FED USA. Agora, quando Trump, derrotado, ainda trabalha na sombra para conseguir a nomeação para o corpo de governadores do FED da inenarrável e charlatã Judy Shelton (à qual Bradford DeLOng tem dedicado algumas páginas nada meigas, link aqui), a escolha de Biden repõe a verdade e a pureza das coisas.

Mas o que mais me agrada no artigo é a celebração da escolha como consequência lógica e justa de uma carreira notável de serviço público leal e de coerência das ideias da academia para o mundo da decisão concreta na política económica e monetária.

A coerência das ideias de Janet Yellen guiou a sua atuação nos anos que precedera, a sua indicação para Presidente do FED USA, após a sua entrada nos inícios da década de 2010. Na altura, em torno da recuperação da economia americana após a crise de 2007-2008, cavou-se uma forte divisão entre os chamados “falcões” e “pombas” em que se dividiam os governadores do FED. Os primeiros, com forte proximidade aos membros mais radicais do partido Republicano, estavam reféns da fobia inflacionária e reclamavam que a política monetária se tornasse mais restritiva para evitar as ditas e famigeradas pressões inflacionistas. Os segundos criticavam a leitura sobre a economia americana, duvidavam da real aproximação à capacidade máxima e sobretudo rejeitavam a hipótese dos estímulos monetários à economia conduzirem a uma pressão inflacionista. Yellen pertencia a este grupo. Os dados oficiais publicados sobre as previsões feitas pelo Board de Governadores mostraram que Janet Yellen era uma das que mais se aproximava dos dados oficiais nas suas previsões e pressão inflacionária nem vê-la (a tal Shelton falava de perigo de uma inflação ruinosa!).

E o que é mais importante e decisivo é que segundo Krugman a competência de Yellen na gestão da política monetária do FED era a consequência lógica da sua coerência na academia, quando integrou um vasto conjunto de economistas que se opuseram à transformação da macro e da ciência económica em geral num mundo de agentes perfeitamente racionais capazes de otimizar intertemporalmente as suas preferências como se fossem máquinas algorítmicas e guiadas estritamente pelo interesse individual: “(…) Mas ela nunca esqueceu que a economia trata de pessoas, que não são desprovidas de emoções, máquinas de cálculo hiper-racional que os economistas desejam por vezes que sejam” (Paul Krugman).

E como PK o assinala como é confortável e retribuir ter a perceção de que a política económica será conduzida por quem sabe o que está a fazer. É assim mesmo, simples e direto.

 



[1] Com a habitual nota do jornal que diz: “O NYT publica opinião de uma vasta faixa de perspetivas na esperança de construir um debate construtivo sobre questões consequentes”

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