sábado, 7 de novembro de 2020

YOU DID IT!

 

                                                                    (New York Times)

(Joe Biden e Kamala Harris prestaram um serviço inestimável à decência na política e à preservação da democracia nos termos em que pretendemos que ela se mantenha. Por mais patranhas e manobras que Trump e a sua corja mais chegada possam montar até aos princípios de janeiro de 2021, para o mundo civilizado e para a comunicação global o que está adquirido é que Trump perdeu inapelavelmente as eleições provando do próprio veneno …)

Os bazofeiros e primários como Trump têm um problema comunicacional sério. Quando mentem não disfarçam, sobretudo quando são compulsivos e quando perdem evidenciam-no mais ínfimo pormenor.

A declaração das 11.30 (hora portuguesa) na noite de quinta-feira foi já um prenúncio de derrota. A comunicação patética invocando a fraude revelou-nos um Trump derrotado, vencido na vitória que anunciava nos votos que ele considerava como legais. Não conhecemos exatamente os bastidores mas talvez os primeiros sinais de isolamento estivessem já a fazer-se sentir, agravados depois por algumas “deserções” republicanas da narrativa da fraude eleitoral e sobretudo com a verdadeira “bomba” da Fox News anunciando a liderança de Biden no Arizona, não proporcionando qualquer força à palhaçada de pedir nos lados a paragem da contagem de votos e noutros lados a sua continuidade. Mais discutível será a decisão das principais televisões americanas terem cortado a palavra a Trump tamanha era a falsidade que decorria das suas palavras, conspurcando a Casa Branca, mas, independentemente do debate jornalístico que tal decisão irá desencadear, isso revela isolamento e a queda anunciada.

Vários analistas nacionais destacaram, este fim de semana, Francisco Louçã por exemplo, os sinais de que os patrões das grandes redes sociais começaram a compreender que a praga das “fake and manufactured news” lhes pode arruinar o negócio, tornando-o instrumento dos interesses mais inconfessáveis. Por exemplo, o número de posts falsos que terão sido anulados nos últimos tempos é assustador e, convenhamos, não há negócio que aguente muito tempo a degradação da sua imagem ou a generalização da má fama. A derrota de Trump pode também ser importante nesse sentido.

                                                                                       

Mas deste dia guardo sobretudo aquele sorriso largo de Kamala Harris, recebendo na sua corrida informal o telefonema de Joe Biden após a confirmação da vitória na Pensilvânia e a ultrapassagem dos míticos 270 elementos do Colégio Eleitoral. A escolha de Kamala para candidata a Vice-Presidente representa uma das mais acertadas decisões políticas que alguma vez as candidaturas a eleições americanas tiveram, aliás anunciada quando Kamala Harris abandonou muito cedo, a corrida das primárias democratas, compreendendo que Biden era o único candidato entre os que se apresentaram que poderia balancear o eleitorado democrata. E ela é uma candidata e peras, a começar por representar ela própria o sonho americano, filha de emigrantes e uma mulher de sucesso, não branca.

A alegria misturada de alívio que se pressentia nas cidades americanas identificadas com a vitória de Biden e Harris e que apareceram nas coberturas televisivas (um zapping selvagem determinado pela emoção), com generalização de uso de máscaras, mas distanciamento social era pedir muito, representava bem a polarização que se abateu sobre a sociedade americana sistematicamente reproduzida e instrumentalizada pela indecência de Trump.

Todos esperamos que os 70 milhões que deram a Trump a derrota com mais votos da história democratas dos EUA não sejam todos discípulos satânicos de Steve Bannon ou especialistas na linguagem dos feitiços africanos e que a decência republicana isole cada vez mais Trump e até dou de barato que a cerimónia de tomada de posse de Biden e Harris em janeiro nos possa trazer notícias desagradáveis. Mas a maneira como a vitória de Biden e Harris foi recebida anuncia que qualquer tentativa de inverter a decisão democrática dos americanos poderá ser bloqueada pela decência das instituições.

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